Entre as atrações turísticas da região do Recôncavo Baiano estão a arte, os museus, os sítios históricos e a gastronomia, que  se somam aos roteiros dos terreiros de candomblé.

Um dos nomes mais famosos da arte local, Hansen Bahia (1915-1978) não nasceu no Brasil, mas se estabeleceu na região e deixou sua herança (tanto em obras quanto em discípulos) para as cidades de São Félix e Cachoeira.

A casa em São Félix, onde o artista alemão viveu com sua mulher, a também artista plástica Ilse Hansen, é um marco do circuito de artes da região. Lá estão expostas gravuras, quadros a óleo, livros ilustrados e esculturas feitas pelo casal. A visitação é gratuita.

Outra parte de sua obra pode ser contemplada na sede da Fundação Hansen Bahia, no centro de Cachoeira, onde também são expostos trabalhos de artistas locais.

Karl Heins Hansen nasceu em 1915, em Hamburgo. Foi marinheiro, soldado, ilustrador e gravurista. Como muitos estrangeiros, foi capturado pelo axé da Bahia e da cultura afro-brasileira, que retratou.

Adotou o nome artístico de Hansen Bahia e ilustrou desde o cotidiano dos habitantes de Salvador até o poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves —o poeta brasileiro é filho ilustre do Recôncavo.

A casa-museu de Hansen é cercada pela mistura de vegetação da mata atlântica e da caatinga, típica da região. Do terraço, avista-se o rio Paraguaçu e o casario de Cachoeira, cidade para a qual doou sua produção artística, em testamento feito dois anos antes de sua morte, em 1978. 

Davi Rodrigues estudou com Hansen quando jovem. Desenvolveu um estilo próprio, uma espécie de pontilhismo, mas é também escritor, e acaba de lançar um livro em forma de baralho com 53 cartas relatando a história da cidade de Cachoeira.

Ótimo contador de histórias, Rodrigues atua também como guia para quem quer conhecer os circuitos artísticos, históricos e culturais do Recôncavo. Ele acompanha ou indica roteiros para o turista conhecer, por exemplo, os quilombos da região, as melhores rodas de samba, ateliês de artistas locais, entre eles o do escultor Mimo, ou a obra da centenária Dona Cadu, a mais antiga ceramista em atividade da região (e possivelmente do país). 

A paulista Rosângela Cordaro foi ao Recôncavo estudar Dona Cadu e acabou se fixando em Cachoeira. Ela é a dona da pousada Identidade Brasil, no centro da cidade. Muitas vezes, leva seus hóspedes no próprio carro até o ateliê da ceramista, no município de Coqueiros.

“Em Dona Cadu, vi que a cerâmica é um produto final de uma escala de valores e conhecimentos que envolvem a espiritualidade e as manifestações do humano, como a dança e a música”, diz Cordaro.

As visitas aos quilombos Kaonge, Dendê, Kalembá, Engenho da Ponte e Santiago do Iguape, nos arredores de Cachoeira, são feitas de carro, mas podem incluir caminhadas por trilhas e almoço com as comunidades quilombolas.

Alguns passeios de barco pelo rio Paraguaçu, passando por ruínas de antigos engenhos, também oferecem parada em algum quilombo.

As histórias do Brasil-Colônia, percebidas nas construções tombadas das cidades de Cachoeira e São Félix, também estão no Museu Regional de Cachoeira ou no Centro Cultural Dannemann, onde painéis contam sobre a produção de tabaco na Bahia. 

Ali, funcionárias vestidas com trajes típicos das baianas (herança da época colonial) mostram na prática como são feitos os charutos. 

GLOSSÁRIO

Axé  termo iorubá que significa energia, poder, força e que sustenta os terreiros de candomblé

Babalorixá, babaloxá ou babá é o pai de santo, pai de terreiro, sacerdote

Bori oferenda para harmonizar e fortalecer a cabeça de uma pessoa iniciada ou não no candomblé

Candomblé religião introduzida no Brasil a partir da escravidão e do período colonial com os africanos principalmente das regiões atuais da Nigéria e do Benim

Eguguns espíritos dos ancestrais mais importantes de uma comunidade

Iabás orixás femininas

Ialaxé  mulher responsável pela casa de candomblé, que cuida da limpeza, da oferenda de comidas aos orixás, das plantas

Ialorixá, iyá ou ialaorixá é a mãe de santo, mãe do terreiro, sacerdotisa

Ilê ou ilê axé local sagrado, casa onde acontecem as festas públicas e abriga os convidados

Iorubá língua viva, de tradição falada, composta por milhares de dialetos africanos que atravessou o Atlântico nos porões nos navios negreiros e sobrevive até hoje

Nações do candomblé termo usado por portugueses para agregar diferentes grupos étnicos que foram escravizados no Brasil. Segundo o historiador Nicolau Parés, essa divisão era de ordem política, por meio da língua, dos cantos, das danças e dos instrumentos. Com o passar do tempo, o parentesco biológico foi sendo substituído pelo parentesco do santo, de caráter teológico

Obarás orixás masculinos 

Iaô filho de santo 

Fonte: Folha de S.Paulo