Artistas, diretores e
produtores do cinema brasileiro estão em Miami esta semana para a 23ª edição do
Brazilian Film Festival (BRAFF), que acontece até o dia 21 de setembro. Na terça-feira
(17), uma plêiade de artistas participou da entrevista coletiva promovida pela
Inffinito, organizadora do festival, no sofisticado Silverspot Cinema em
Downtown Miami.

Além de Dira Paes,
atriz de “Veneza” e “Divino Amor”, estiveram na coletiva o ator Bruno Garcia,
“De Pernas Pro Ar 3”; Daniel Del Sarto, ator e músico responsável pelas cerimônias
de abertura e encerramento do evento; Miguel Falabella, diretor de “Veneza”, e
Orlando e Antônia Moraes, pai e filha, que participam de “Orlamundo”, de
Alexandre Bouchet, com roteiro de Orlando Moraes.

Dira Paes, que tem mais
de 30 anos de carreira cinematográfica, afirmou ter ficado encantada em
trabalhar pela primeira vez com Miguel Falabella, a quem qualificou como “força
da natureza”. Segundo a atriz paraense, “Miguel tem uma abrangência de
talentos, porque é diretor, autor, ator, cantor e faz tudo muito bem”. Dira
comentou que no momento das filmagens ele contava histórias para os demais
componentes do elenco. “Mais do que contador de histórias, ele é encantador de
histórias”, exaltou.

Falabella também
retribuiu os elogios ao dizer que, embora nunca tenha trabalhado com ela,
escreveu o personagem Rita com Dira em mente. “Ainda bem que ela aceitou porque
o personagem se encaixava perfeitamente com ela”, afirmou o multitalentoso
artista.

“Veneza”, aliás, foge
do padrão de comédia que tanto caracterizou Miguel Falabella. Trata-se de um
filme lírico onde prevalece emoção. Neste ponto, Bruno Garcia afirmou que a
terceira versão de “De Pernas Pro Ar”, da diretora Julia Rezende e produtora
Mariza Leão, foge do continuísmo. “Embora integre a mesma franquia, tem outra
abordagem, mais atualizada e conectada”, frisou Garcia.

Tanto ele como
Falabella, fizeram questão de salientar que a predominância da comédia no
mercado cinematogrático brasileiro decorre da pressão dos produtores e
sobretudo distribuidores, pois este tipo de produto tem boa aceitação popular. “Só
consegui fazer ‘Veneza’ porque fiz ‘Sai de Baixo’. Acho legal fazer comédia,
mas, quero ter opção de fazer outro tipo de filme”, afirmou o workaholic
Falabella, que produz muito e dorme pouco.

Orlamundo

O filme exibido no
Silverspot Cinema após a coletiva foi “Orlamundo”, que narra a visão de mundo
de Orlando Moraes através da música e dos elementos naturais. Ele mesmo
reconheceu o apoio incondicional da filha Antônia, que também participa do
filme e foi assistente de direção e produção.

“Orlamundo” é um
documentário diferente que segue os gostos musicais do músico Orlando Moraes e
sua interligação com músicos do Brasil (Caetano Veloso, Velha Guarda da Portela
e Violeiros Goianos) e de todo mundo, sobretudo da Ásia e da África. Durante
seu intercâmbio com a natureza, sobretudo o rio, elemento que tem uma
influência incrível sobre Orlando, ele mostra e canta músicas de sua autoria.

Promessa de virada

Uma das organizadoras
do festival, Cláudia Dutra destacou que o Festival de Cinema Brasileiro de
Miami será ainda melhor a partir de 2020. Sem revelar quais serão as novidades,
ela demonstrou entusiasmo de elevar o patamar do BRAFF às vésperas dele
completar Bodas de Prata, que ocorrerá em 201.

Por fim, Adriana Dutra
não escondeu sua irritação com a nota publicado na coluna de Ancelmo Gois em “O
Globo”, que afirmava ter havido censura na exibição do filme sobre Chico
Buarque de Holanda. “Nem vou mais comentar sobre isto. O mal-entendido já foi
desfeito e isto ficou no passado”.

Então, vamos ficar com
as boas notícias à espera das novidades prometidas pelas diretoras da
Inffinito.

Um pouco da
história do festival

A presença de todos esses
artistas me remeteu ao primeiro festival, 23 anos atrás, quando os filmes foram
exibidos no Bill Cosford Cinema, uma sala de exibição dentro da University of
Miami. Na ocasião, alguns pessimistas chamaram o desafio de “loucura”, ou
“insensatez”. Entretanto, a determinação das irmãs Adriana e Claudia Dutra e de
Viviane Spinelli calou os críticos e, mais do que isto, colocou o cinema
brasileiro como referência cultural no Sul da Flórida. Hoje, o Brazilian Film
Festival (BRAFF, como é conhecido aqui) é uma realidade e faz parte do roteiro
cultural das cidades de Miami e Miami Beach.

Como um dos
“veteranos” da imprensa local, fico feliz em ver que este festival, que acabou
gerando diversos filhotes pelo mundo todo, continua sendo exibido anualmente.
Aliás, este foi o ponto destacado por Dira Paes, homenageada da Inffinito este
ano: “As meninas (meninas em referência às idealizadoras do festival) mostraram
que, além de desbravadoras, elas se mostraram resilientes. Manter este projeto
em atividade de maneira tão duradoura é algo a ser exaltado”. Ela valorizou
também o ambiente que se cria em torno do festival, com Miami respirando cinema
brasileiro.

Se no final do século passado nem todos grandes artistas do cinema brasileiros arriscavam seu nome para prestigiar um festival ainda incipiente – menção honrosa a José Wilker que esteve presente na primeira edição -, hoje o BRAFF atrai vários artistas, produtores e diretores que veem neste festival uma oportunidade de internacionalização de seus trabalhos.

Fonte: AcheiUSA