A pandemia teve um enorme impacto para o turismo no Brasil e no mundo. Mas as companhias aéreas demonstraram uma impressionante capacidade de adaptação e superação dos desafios impostos pela Covid-19. Neste post exclusivo reunimos a percepção de presidentes e executivos de dez companhias aéreas quanto aos desafios e perspectivas para o setor aéreo no contexto atual, obtidos através de entrevistas exclusivas realizadas pelo Melhores Destinos.

Confira as estratégias das companhias aéreas nacionais Azul, Gol e Latam e dos grupos Air-France e KLM, Delta, Lufthansa, Air Europa e Emirates, além da novata ITA Transportes Aéreos para se manterem ativas e prosperarem num ambiente incerto e repleto de riscos.

Renegociar todas as despesas foi o primeiro passo

As companhias aéreas foram rápidas ao renegociar contratos e despesas após o início da pandemia. O principal objetivo foi poupar os recursos que tinham em caixa, já que a maior parte dos aviões ficou em solo por vários meses. Neste aspecto, o Brasil serviu de exemplo para o mundo, já que mesmo sem nenhum aporte governamental as empresas demostraram resiliência e conseguiram se manter operando sem torrar dinheiro voando com aeronaves vazias.

John Rodgerson, presidente da Azul, destacou que com a pandemia, as companhias aéreas foram obrigadas a cortar custos e pessoal e a renegociar contratos. “Olhamos quem tinha mais para perder e todos tiveram que contribuir para criar giro. Então, falei para a empresa de leasing, que não podia pagar nada no segundo trimestre, em abril, maio e junho era zero. Em julho, pago 20% porque estava voando 20%. Depois, passamos a pagar 40%, voando 40%, e assim por diante.” Basicamente, a empresa transformou boa parte dos custos fixos em variáveis, chegando a economizar 80% com o leasing das aeronaves no terceiro trimestre. Já a folha de pagamento caiu 50%. “Obviamente, tivemos acordos com sindicatos e para outros profissionais. Infelizmente, tivemos de dizer até breve (2.500 funcionários foram desligados). Mas estamos trazendo de volta muitas pessoas que foram desligadas nesse processo. A única maneira de nos salvar é voando. Fizemos tudo o que precisava ser feito! A parte difícil já passou.  Agora, é retomada, retomada e retomada. É parar de chorar e olhar para frente.”

Jerome Cadier, Presidente da Latam, explicou porque a empresa escolheu o caminho da recuperação judicial. “A aviação parou com a pandemia de coronavírus! Houve uma queda brutal das vendas, que chegou a mais de 90% da receita. Mantivemos alguns voos domésticos no Brasil e no Chile, mas na parte internacional e em outros mercados (como Colômbia, Argentina e Peru) os voos pararam totalmente. E a recuperação deu sinais que ia acontecer de forma lenta. Dado esse cenário, vimos que a melhor forma de garantir a sustentabilidade da companhia no longo prazo seria esta. Mas temos caixa para navegar ao longo desse processo (mais de R$ 12 bilhões contando captações e aportes dos acionistas). Além disso, entramos na crise num momento de aceleração, com uma operação super redonda, sólida e lucrativa.”

A demanda está se recuperando, mas não de maneira uniforme

O primeiro segmento da demanda a se recuperar foi o de turismo doméstico, que já atingiu os patamares de antes da pandemia. Mas a demanda por viagens a negócio e por voos internacionais ainda são bem inferiores aos níveis pré-Covid-19. Ambas dependem da vacina para uma recuperação mais sólida. De um lado, as empresas temem serem responsabilizadas por eventuais contaminações ao colocar funcionários novamente viajando. Por outro, as fronteiras precisam reabrir e as restrições de viagem serem reduzidas para que a demanda internacional se recupere.

John Rodgerson, presidente da Azul, fez uma reflexão sobre o presente e o futuro da demanda por voos. “A demanda vai ser diferente no futuro? Talvez ter executivo voando a ponte aérea para fazer uma reunião só, como antes, não! Vai demorar mais para voltar. Mas vai ter gente trabalhando home office no país inteiro. Pessoas viajando pela primeira vez, ou viajando por outros motivos. Uma das poucas coisas boas que vieram com a pandemia foi que o brasileiro está conhecendo mais o próprio país. Mas o Brasil mantém uma peculiaridade. O vício nas altas temporadas. Todo mundo quer viajar para os mesmos lugares, na mesma época. Acho que a pandemia pode ajudar a mudar isso. As pessoas terem mais flexibilidade para planejar viagens, trabalhar remoto e economizar voando alguns dias antes do feriado, por exemplo. Aquela mesma praia, aquele mesmo hotel, estão disponíveis em outras épocas, pela metade do preço. Quem consegue viajar fora das férias escolares e dos feriados prolongados tem uma experiência muito melhor, com praias mais vazias, trânsito melhor e preços bem mais baixos! Isso talvez mude e estimule o mercado!”

Seth Van Straten, diretor do grupo Air France-KLM, acredita que ainda é cedo para afirmar que há mudanças permanentes. “De um lado, se fala das reuniões profissionais acontecerem cada vez mais remotamente. Mas de outro, especialmente nos últimos meses, muitos clientes nos falam que não veem a hora de voltar a viajar. Hoje temos menos viajantes a negócio, mas não sei se isso vai se manter após o fim da pandemia. As pessoas gostam de viajar, de ter contato pessoal, de fazer novas descobertas e conhecer novos lugares. A primeira onda foi de viagens a turismo, mas eu acredito na retomada das viagens corporativas.”

Os preços das passagens aéreas deve baixar

Devem surgir boas promoções e oportunidades para quem planeja viajar em 2021. A dica é verificar a política de flexibilidade da companhia aérea (a maioria das empresas está oferecendo a remarcação sem multa, pagando a diferença de tarifa se houver) e utilizar a legislação vigente a seu favor. A Medida Provisória 1024 garante o cancelamento sem custo com crédito para uma nova viagem de viagens programadas até 31/10/2021. Mas lembre-se, caso queira o seu dinheiro de volta, você pode ter que pagar as penalidades previstas na regra da tarifa adquirida.

Jerome Cadier, Presidente da Latam, lembrou que é difícil acompanhar os movimentos de preço do setor aéreo. “Temos uma dinâmica diferente no curto e no longo prazos. No longo prazo, o que importa é o custo da empresa. Essas variáveis apontam para um aumento de custo. O preço do petróleo já retornou. Enquanto que o câmbio nos pressionou de forma brutal… Já no curto prazo, o preço depende de quanta capacidade (oferta) existe. Com as companhias aéreas colocando mais aviões para voar, a tendência é os preços caírem. Se o avião vai voar, vamos encher o avião. E no curto prazo queremos convidar o passageiro a voar. O preço tem que ser mais convidativo para convencer as pessoas a voltarem a viajar. Por isso, seremos mais agressivos até que a demanda retorne.”

Já John Rodgerson, Presidente da Azul, tem o mesmo entendimento: “A tarifa média deve cair nos próximos anos. Nossa ampliação de frota com os super eficientes Embraer E2 e o Airbus A320neo foi com a intenção de baixar as tarifas. Mas o que determina os preços é a demanda. E a gente vivia antes da Covid-19 um momento de demanda altíssima. Com o tempo os preços vão cair, porque mais aeronaves chegarão e a oferta vai crescer muito.”

Mas Paulo Kakinoff, Presidente da GOL, deixou um alerta: “Os preços das passagens dependem mais de oferta e da demanda. Ainda que as empresas enfrentem pressão de custos, na maioria das vezes não conseguem transferir isso para as tarifas, mantendo os preços baixos. Mas a longo prazo deve acontecer uma redução de oferta no mundo, já que as empresas tendem globalmente a diminuir de tamanho.

O Brasil terá mais cidades atendidas e uma nova companhia aérea em 2021

A Azul planeja voar para 200 cidades no Brasil nos próximos anos. Além disso, a ITA Transportes Aéreos planeja começar a voar no Brasil dia 1º de março de 2021 com 10 aeronaves.

John Rodgerson, Presidente da Azul, destacou a rápida recuperação da empresa e apresentou um plano ambicioso para o mercado doméstico. “Hoje já somos líderes em número de destinos e de voos no Brasil. Olhando para o futuro, queremos chegar a 200 cidades no Brasil. Essa é a nossa meta. Lançamos recentemente voos para Angra dos Reis, Búzios, Canela, Ubatuba, Paraty e outros destinos com a Azul Conecta. Queremos ajudar as pessoas que ficam presas em engarrafamentos para curtir as praias, com opções convenientes para chegarem rápido de avião. E vamos crescer ainda mais, com tarifas menores.”

Já Tiago Senna, presidente da ITA Transportes Aéreos, garantiu que a nova empresa criada pelo grupo Itapemirim vai entrar no mercado para ser uma das quatro grandes companhias aéreas nacionais. “Já temos definidos 17 destinos iniciais. Vamos ter uma média de 3.000 voos por mês. E o voo inaugural será de Vitória para Guarulhos. Escolhemos Vitória para começar, pois a sede do grupo Itapemirim fica no Espírito Santo e recebemos um apoio importante do governo de lá. Mais do que isso só iremos divulgar perto do início dos voos.”

Senna compartilhou ainda mais alguns detalhes da operação da ITA: “Nós vamos trabalhar 3 hubs (centros de distribuição de voos), que são Guarulhos, Confins e Brasília. Outra coisa certa é que vamos operar no Galeão também. Congonhas e Santos Dumont seria estupidez dizer que não temos interesse a médio prazo. Mas num primeiro momento, não, até porque os Airbus A320 que estamos trazendo não podem pousar no Aeroporto Santos Dumont.

A vacina e a testagem antes dos voos são a chave para a reabertura das fronteiras

As restrições de viagens para os Estados Unidos, os principais países da Europa e outros destinos mais visitados por brasileiros permanecem, sem uma previsão clara de quando serão eliminadas ou flexibilizadas. Com o avanço da vacinação, é provável que muitas nações reabram suas fronteiras mediante a comprovação da imunidade, como já acontece com outras doenças como a febre amarela, por exemplo, ou com a utilização de uma nova geração de testes rápidos mais eficientes e baratos. Mas isso vai depender de como a situação vai evoluir, o que deve levar alguns meses.

Stephane Perard, diretor geral da Emirates no Brasil, defendeu o modelo bem sucedido de abertura adotado pelos Emirados Árabes Unidos. “Os Emirados Árabes adotaram como principal estratégia de prevenção ao coronavírus a exigência de um teste (PCR) para todos os viajantes que vão visitar o país, ou apenas usar Dubai para conexão, mantendo a nação aberta aos visitantes de todos os países. Se conseguiu manter uma incidência muito pequena de Covid-19 desta forma. O que parecia uma barreira para o turismo se tornou um grande ativo. Mas o que a indústria de aviação como um todo não conseguiu foi uma padronização de regras no mundo. Em muitos países a mobilidade ainda permanece restrita, ou existem regras específicas, que deixam os turistas inseguros.”

Gonzalo Romero, Gerente Geral da Air Europa no Brasil, aposta na redução das restrições de viagens da União Europeia através da testagem.“Eu acredito que em breve teremos boas novidades. Antes da segunda onda de Covid-19, a União Europeia estava discutindo um método para viabilizar a reabertura das fronteiras com testes de antígenos, que são mais rápidos (o resultado sai em 15 minutos) e mais eficientes que o PCR para a Covid-19. Se houver uma recomendação e a adesão dos países da União Europeia, se viabilizaria uma reabertura mais rápida dos países para viajantes de fora do bloco.”

Seth Van Straten, diretor do grupo Air France-KLM, também aposta numa mudança nos próximos meses. “O próximo passo, a meu ver, é os governos permitirem pessoas de qualquer nacionalidade viajarem, desde que comprovem com um exame recente que não estão infectadas com a Covid-19. Ou seja, com um teste negativo de PCR você deveria poder embarcar, não importando a sua nacionalidade. Creio que uma combinação de fatores que envolve a confiança nos testes, a experiência bem sucedida de alguns países e disponibilização de uma vacina irão mudar o cenário de restrição de viagens que vemos atualmente.”

O avião é o meio de transporte mais seguro por conta da tecnologia de filtragem de ar

Os executivos de todas as empresas foram unânimes em afirmar que voar é seguro, conforme ficou comprado em diversos estudos. Graças a medidas implementados pelo setor, como o uso o obrigatório de máscaras, a limpeza dos aviões e, principalmente, aos filtros HEPA, capazes de eliminar 99,9% dos vírus e bactérias e renovar totalmente o ar da cabine a cada 3 minutos, a indústria atingiu um patamar bastante elevado de segurança.

Paulo Kakinoff, presidente da GOL, afirmou que as estatísticas e as próprias evidências empíricas comprovam que voar é seguro. “O nosso índice de positivo nos testes de Covid-19 entre os nossos tripulantes, que chegam a voar até 30 horas por mês em contato com até 2.000 pessoas, é de um caso positivo a cada 1.200 decolagens. Muito baixo. Sendo que nada assegura que esse contágio se deu no trabalho, ou mesmo dentro de um avião. A própria IATA divulgou um estudo recente que mostrou que se tem registro de 1 caso a cada 27 milhões de passageiros transportados. Ainda que se considere uma eventual subnotificação, é um número absurdamente baixo. Eu acredito que o brasileiro está convencido disso. Basta ver os números crescentes do setor. A medida que mais pessoas vão voando e vendo que permanecem saudáveis após a viagem, elas vão compartilhar essa experiência com pessoas próximas e vão ajudando a aumentar a percepção geral de segurança.”

Clientes demandam mais flexibilidade

Como voltar a comprar viagens diante de tantos riscos trazidos pela pandemia. Além da possibilidade de ficar doente, há o risco do fechamento de fronteiras e de destinos, ou da imposição de novas restrições de viagens pelos governos, fechamento de comércios, exigências de testes, alterações e cancelamento de voos, entre outras.

Fábio Camargo, diretor da Delta Airlines no Brasil, disse que as empresas terão que se esforçar mais para dar mais tranquilidade aos passageiros: “Nosso presidente global falou numa reunião antes da pandemia de oferecer mais flexibilidade para os passageiros nos próximos anos. Isso nos permitiu sair na frente e já no começo da crise lançar políticas inovadoras, ampliando o prazo dos bilhetes e isentando taxas de remarcação. Recentemente tornamos permanente o fim das taxas de remarcação em voos domésticos. E vamos continuar isentando por mais algum tempo também em voos internacionais.”

Annette Taeuber, diretora do grupo Lufthansa, destacou algumas facilidades para os clientes. “Todas as nossas passagens hoje são remarcáveis quantas vezes o cliente quiser, sem multa. Não precisa apresentar motivo, pode mudar quando quiser. Se tiver vaga na mesma classe tarifária, não paga diferença de valor. Caso queira mudar o destino ou se não tiver vaga na mesma classe, é cobrada apenas a diferença de tarifa, sem penalidade. É importante reforçar também que já pagamos mais de 3 bilhões de Euros em reembolsos. Isso não é um problema para nós. Mesmo no Brasil estamos processando reembolsos antes de 12 meses, para dar tranquilidade aos passageiros. No caso dos reembolsos, pode haver penalidade.”

Seth Van Straten, diretor do grupo Air France-KLM, fez coro com os colegas. “Nós temos oferecido flexibilidade desde o começo da pandemia. Mas posso dizer que atualmente temos uma das políticas mais flexíveis da aviação mundial. Hoje você pode comprar sua passagem e, se em qualquer momento mudar de planos, por qualquer motivo que seja, oferecemos remarcação sem multa. E, dependendo da data que você quiser remarcar, não cobramos sequer a diferença de tarifa.”

O setor também precisa ser mais flexível

Algumas lições foram aprendidas pelo setor com a pandemia de coronavírus. Uma das mais importantes foi o risco da rigidez dos contratos, um desafio de longo prazo para o setor.

Jerome Cadier, Presidente da Latam, foi o mais enfático neste quesito. “A palavra flexível quase não existe no setor aéreo. Ele tem regras para tudo que você imaginar, com uma rigidez e uma dificuldade de se tomar decisões com pouca antecipação. Só que vamos voltar a operação numa velocidade que a gente não sabe ao certo qual será. E esse setor inflexível que temos hoje definitivamente não é adequado a essa nova realidade. Como eu ofereço para o passageiro alguma flexibilidade se tudo que tem antes e depois da cadeia é inflexível? São decisões de meses e anos, como dimensionar frota e tripulação, por exemplo. Eu não posso mudar minha programação, não posso renegociar meus contratos com os fabricantes de aeronaves, não posso mudar os horários que eu vou chegar ou sair do aeroporto, porque os slots são regulados minuto a minuto. É hora da gente repensar a cadeia toda. E isso é complexo. Mas a longo prazo vai ter que mudar!”

Eficiência é a palavra de ordem para a aviação

As principais companhias aéreas do mundo estão se endividando fortemente para sobreviver a crise. Essa conta pode ficar alta demais e dificultar a recuperação das empresas nos próximos anos. Neste aspecto, os executivos do setor são unânimes: a saída do setor é a eficiência!

Jerome Cadier, presidente da Latam, foi o mais enfático: “Em qualquer cenário precisamos trabalhar a eficiência. Essa é a palavra de ordem! Não pode ter custo alto, não pode ter desperdício de recurso.”

Paulo Kakinoff, Presidente da GOL, destacou o câmbio e custos atrelados ao dólar como suas maiores preocupações: “O setor continua muito impactado. Ainda há uma redução significativa de receita, que impacta as finanças da companhia, junto com a variação cambial, já que 60% dos nossos custos são atrelados ao dólar.”

Redução de frota e aposentadoria de aeronaves antigas são prioridades hoje

A eficiência esperada pelo setor passa por uma adequação do tamanho da frota frente ao novo cenário de demanda, bem como a priorização de aeronaves mais novas e eficientes. No Brasil, Azul, GOL e Latam devolveram dezenas de aeronaves para as empresas de leasing.

Annette Taeuber, diretora da Lufthansa, resumiu bem as ações do grupo. “Uma das primeiras decisões foi reduzir a frota de mais de 750 aviões em 150 aeronaves, bem como estacionar temporariamente algumas aeronaves maiores, como o Airbus A380, ou menos eficientes, como o Boeing 747-400 (um modelo mais antigo do que o 747-8 que usamos no Brasil). Outros aviões como o Airbus A340 (passageiros) e o MD11 (carga) serão definitivamente aposentados. Vamos precisar de alguns anos para voltar ao nível de pré-pandemia.

Apoio governamental pode acelerar a recuperação do setor

Apesar de o Brasil e outros países em desenvolvimento não terem apoiado diretamente o setor aéreo com empréstimos, os governos dos Estados Unidos e dos principais países da Europa socorreram suas empresas com financiamentos e até recursos a fundo perdido.

Para Annette Taeuber, diretora do grupo Lufthansa no Brasil, a situação foi realmente dramática e, sem a ajuda dos governos, provavelmente muitas companhias aéreas não suportariam essa crise do tamanho que ela veio. “Somos muito agradecidos ao aporte de 9 bilhões de euros do governo alemão. Não só o dinheiro, mas também todo o suporte social para os nossos funcionários. Por outro lado, vamos ter que pagar esse dinheiro de volta. E os juros são altos. O grupo Lufthansa sempre foi muito firme em defender a não interferência estatal em companhias aéreas, mas vivemos uma situação completamente fora do normal. Mas já criamos um programa chamado Renew (renovar, em inglês), com um projeto chamado Repay (reembolsar, em inglês), com todo planejamento para pagar essa dívida. E, se tem uma coisa que alemão faz bem, é economizar e lidar com crises. É o nosso DNA.”

Digitalização veio para ficar

Paulo Kakinoff, presidente da GOL, defendeu que não acredita numa disrupção ou grande mudança após a pandemia. “Vejo mais uma aceleração de algumas tendências e processos que já existiam. Por exemplo, hoje temos muito mais gente embarcando usando apenas os canais digitais da GOL, com menos pessoas indo aos balcões de check-in. Mas os aplicativos e canais digitais das companhias aéreas não foram inventados agora. Muita coisa que está em evidência agora em nossas vidas, como os apps de entrega, a videoconferência, o streaming de vídeos, são coisas que já existiam. Ou seja, creio na aceleração de tendências e não em grandes mudanças estruturais na industria.”

Stephane Perard, diretor da Emirates, defendeu que a tecnologia e a segurança sanitária são os ativos que a aviação vai herdar da pandemia. “Uma experiência sem toques no check-in e no embarque, o uso de câmeras térmicas nos aeroportos, novas tecnologias de desinfeção de aviões. Tudo isso evoluiu muito e rápido e vai continuar!”

Seth Van Straten, diretor do grupo Air France-KLM foi mais longe. “Acredito que num futuro próximo o controle de passaporte e a segurança dos aeroportos serão feitos com o auxílio de scanners automáticos. O embarque será feito por biometria facial, sem cartão de embarque, bastando olhar para uma câmera.”

“Outra tendência que eu acredito é uma valorização da comunicação direta das companhias aéreas com os clientes. Por conta dos problemas da pandemia, como cancelamento e mudanças de voos, os clientes precisaram de mais suporte das empresas. E esses processos devem melhorar para permitir aos viajantes o controle da sua jornada, do que pagaram e pelo que pagaram. Novos tipos de bilhetes serão criados, onde o cliente vai escolher quanta flexibilidade e que tipos de opções ele quer”, concluiu o executivo.


Você pode conferir a íntegra das entrevistas exclusivas com esses líderes clicando nos links abaixo:

Fonte: Melhores Destinos

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