A gestão João Doria (PSDB) alterou pela segunda vez o modelo de construção do último trecho do Rodoanel para tentar concluir a obra iniciada ainda na primeira gestão tucana, de Mário Covas, em 1998. A estratégia agora é propor ao mercado uma Parceria Público-Privada avaliada em R$ 2,4 bilhões para terminar cerca dos 15% restantes da fase norte, com 47,6 quilômetros de extensão.

Prometido por todos os governadores tucanos, desde Covas, o Rodoanel é um anel viário que liga as principais rodovias que chegam à capital. O trecho norte é a última etapa do projeto, com acesso ao aeroporto de Guarulhos. Foi iniciado em 2013 e acumula uma série de irregularidades que levaram Doria a extinguir a estatal até então responsável por sua execução, a Dersa.

De acordo com o secretário estadual de Logística e Transportes, João Octaviano Machado Neto, a pasta projeta publicar o edital no fim deste mês a tempo de retomar as obras no primeiro semestre – de preferência até abril, quando Doria deixará o comando do Estado para disputar a Presidência da República. O governador, que tem divulgado a marca de 8 mil obras em andamento em São Paulo na reta final de sua gestão, pressiona sua equipe para anunciar a retomada.

Esta será a segunda tentativa do governo Doria de fazer andar o projeto. Em fevereiro de 2021, o vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), então responsável pelas concessões e parcerias do Estado, decidiu refazer o edital de concessão e propor que a mesma empresa que vencesse a disputa para a construção também pudesse operar a via por 30 anos, explorando-a comercialmente por meio de pedágios. Mas a proposta não vingou.

Denúncias

Atrasos, suspensão de editais e denúncias de corrupção marcam o histórico da obra, que só ficou mais cara diante das irregularidades e acabou por virar uma pedra no sapato para os tucanos que ocuparam o Palácio dos Bandeirantes. Quando lançado, em 2013, o trecho norte, por exemplo, era estimado em R$ 5,6 bilhões. Com a previsão de se investir mais de R$ 2,4 bilhões via PPP, o orçamento pode chegar a R$ 12,4 bilhões, uma alta de 120%.

Além de simbólico para Doria e todos os demais governadores paulistas dos últimos 25 anos, o Rodoanel pode ter impacto direto na campanha para a sucessão estadual. Garcia, que se filiou ao PSDB ano passado para disputar a reeleição – ele assumirá o governo em abril -, será cobrado por adversários durante a campanha pelos atrasos e também pelas denúncias relativas a contratos.

O ex-governador Márcio França (PSB), pré-candidato ao governo, decidiu paralisar três dos seis contratos vigentes em 2018, a 20 dias do término de seu mandato e início da gestão Doria. Na época, a rescisão se deu em meio a denúncias de fraude e superfaturamento e declaração de incapacidade das empresas pela Dersa. Na lista estavam OAS, Mendes Júnior e Isolux, todas investigadas pela Lava Jato.

Ao assumir o comando do Estado, em 2019, Doria tratou de se afastar dos problemas relacionados ao projeto, o mais caro e demorado dos governos tucanos. Além de romper os três contratos que herdou no trecho norte, o governador encomendou um pente-fino nas planilhas de execução da obra para checar se os serviços pagos tinham sido executados.

Falhas

No início de 2020, o estudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) foi divulgado com 1.291 falhas na construção do trecho norte, das quais 59 foram consideradas grandes. A condição dos túneis também foi criticada – um deles chegou a desabar em 2015, provocando um prejuízo de R$ 39 milhões na época.

A novela segue, no entanto, sem prazo para terminar. As empresas que tiveram seus contratos cancelados contestam a auditoria e brigam na Justiça para receber por serviços que alegam já terem sido executados. Já o governo não arrisca dar um novo prazo de conclusão da obra.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.