(FOLHAPRESS) – Há 25 anos, Fernando Haddad era professor do curso Pensamento Político Moderno, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. No currículo estavam “O Federalista” e “A Democracia na América”, que tratam das bases do sistema democrático norte-americano. De economia, falava-se pouco. A exceção eram as críticas do professor ao governo, taxado como “neoliberal”, de FHC.

Mas foi pela economia, uma de suas áreas de formação, que o futuro ministro da Fazenda entrou no setor público. Algumas iniciativas dele nessa área também se perpetuaram, como a criação da Tabela Fipe e o projeto que deu origem à Lei das Parcerias Público-Privadas.

“A gente precisa superar a ideia de que tudo ou é público ou é privado. O mundo não funciona mais assim. Eu tive a honra de ser convidado pelo Guido Mantega para ir para Brasília fazer a lei das PPPs (Parceria Público-Privada). Eu não só redigi essa lei, como criei a maior PPP do Brasil que é o ProUni”, disse recentemente ao comentar a iniciativa.

Foi no final dos anos 90 que Haddad iniciou a transição entre teoria e prática, e entre setor público e privado, na área econômica.

Já havia trabalhado no comércio popular de São Paulo junto ao pai e, por um breve período, como analista de uma grande instituição financeira. Concluiu em 1990 o mestrado em economia pela USP, quando publicou a tese “O Caráter Socioeconômico do Sistema Soviético”, além dos livros “O Sistema Soviético e sua decadência” e “Em defesa do socialismo”.

Os temas econômicos também se destacavam nos artigos escritos para esta Folha. “Privatização e déficit público” (26/07/1990) e “Privatização e eficiência” (25/08/1990) estão entre os primeiros. Ambos no caderno de economia.

Aos 27 anos, o então advogado e pós-graduando em economia pela USP não se colocava totalmente contra a venda de estatais, mas fazia algumas ressalvas.

“Se a privatização é um objetivo desejável, o é por motivos diversos daqueles que nos apresentam o pensamento liberal (…) Do ponto de vista macroeconômico, a privatização não pode ser vista como um remédio para o acerto das contas públicas e, do ponto de vista microeconômico, ela não implica necessariamente maior eficiência do aparato produtivo”, escreveu Haddad.

A experiência na gestão pública começou em 2001, na Secretaria de Finanças da Prefeitura de São Paulo, quando herdou os problemas financeiros da administração Celso Pitta.

Depois, no Ministério do Planejamento, foi um dos responsáveis pelo projeto das PPPs.

Como prefeito, a partir de 2013 teve de lidar com uma situação de falta de caixa e de alto endividamento que lhe renderia muitas brigas com a Câmara de Vereadores de São Paulo.

Em 2015, o então prefeito de 52 anos, também em artigo para a Folha de S.Paulo, comemorou o inédito grau de investimento obtido pelo município junto à agência de classificação risco Fitch Ratings -período em que a nota soberana do Brasil havia sido rebaixada. Atribuiu o “selo de bom pagador” ao corte de despesas de custeio, ao enquadramento da folha de pagamentos nos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal e à redução da dívida do município.

Em 2016, não se reelegeu. De 2017 a 2021, deu aulas na graduação e no mestrado do programa de gestão pública do Insper, trabalho interrompido durante a campanha à presidência de 2018 e finalizado antes das eleições deste ano.

Um colega que conviveu com o futuro ministro nas salas de aula nessa época diz que Haddad, uma vez, afirmou ter com o agora vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSD), 70% de concordância em diversos assuntos. Nos próximos anos será possível saber em que consistem os outros 30%.