BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse nesta quinta-feira (1º) que conversou com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre resolver a questão da meta de inflação ainda este mês.

O tema é tradicionalmente discutido nas reuniões de junho do CMN (Conselho Monetário Nacional), mas desta vez há maior expectativa em torno do assunto, pois o governo já deu indicações de que pode querer mexer no alvo a ser perseguido pela autoridade monetária nos próximos anos.

Haddad disse que almoçou nesta quinta com Campos Neto. “Conversamos sobre a oportunidade de resolver este mês essa questão [da meta de inflação]”, afirmou o ministro da Fazenda, sem dar mais detalhes.

“Conversamos longamente sobre o cenário econômico em 2023, 2024 e 2025. Nós estamos trocando impressões o tempo todo, técnicos da minha equipe e da equipe dele, para que nós possamos fazer convergir cada vez mais os propósitos do Banco Central e da Fazenda na mesma direção”, afirmou.

O presidente Lula (PT) já criticou publicamente os alvos fixados para 2023, 2024 e 2025. Mais recentemente, Haddad defendeu um ajuste no horizonte da meta a ser perseguida. Hoje, o BC mira no índice de inflação do ano fechado, mas o ministro da Fazenda já se mostrou favorável a uma meta móvel, desvinculada do ano-calendário.

A meta de inflação é definida pelo CMN, colegiado formado pelos titulares da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do BC.

A definição dos alvos adotados até 2025 foi feita ainda na gestão de Jair Bolsonaro (PL), uma vez que a escolha da meta é feita com três anos de antecedência.

As metas de inflação hoje são 3,25% em 2023 e 3% em 2024 e 2025, com margens de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Na próxima reunião, o CMN deve indicar a meta de inflação para 2026 e poderá, adicionalmente, mexer nos alvos já definidos para 2024 e 2025.

No início de abril, o petista defendeu mudanças nas metas. “Esses dias, eu li uma frase que eu não sei se foi dita pelo presidente do Banco Central que, para atingir a meta de 3%, precisaria de juro de 20% [Campos Neto falou em 26,5%]. Não sei se foi verdade isso, mas no mínimo é uma coisa não razoável. Porque se a meta [de inflação] está errada, muda-se a meta”, disse Lula.

O presidente indicou apostar em uma meta maior de inflação para tentar empurrar o BC a cortar a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75%. Esse seria um dos poucos caminhos para o petista exercer alguma ascendência sobre a política monetária, já que o BC tem autonomia assegurada por lei.

Economistas de mercado, porém, avaliam que eventual mudança teria efeito contrário ao esperado, já que a elevação da meta poderia transmitir a mensagem de um governo mais leniente com a alta de preços –contribuindo para uma deterioração das expectativas.

Essa visão foi inclusive defendida por Campos Neto no fim de maio, em entrevista à GloboNews. Ele argumentou que o melhor seria não mexer nos alvos da política monetária neste momento, por se tratar de um período de muita incerteza.

“É importante entender que quando se faz uma mudança de meta achando que você vai ganhar flexibilidade para cair os juros, geralmente tem um efeito contrário. Significa que as mudanças de meta ou as mudanças de arcabouço, de uma forma geral, têm que ser feitas visando ganhar eficiência, e não um grau de liberdade, senão você acaba perdendo em vez de ganhar”, afirmou.