SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Companhias aéreas demonstram estar dispostas a dialogar com o governo federal na construção de um programa para vender passagens aéreas a R$ 200 o trecho, que seria focado em aposentados, estudantes e servidores públicos.

A proposta foi apresentada pelo ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, no último domingo (12). De acordo com o titular da pasta, o programa buscaria ocupar os assentos ociosos em voos de carreira, que hoje ficam na casa dos 20% no Brasil.

Conforme os cálculos do ministro, o cenário permite oferecer, anualmente, cerca de 15 milhões de passagens a R$ 200. Como o plano é popularizar o acesso ao transporte aéreo, seriam beneficiados apenas aqueles que recebem até R$ 6.800.

O ministério não deu mais detalhes sobre a proposta, que dependeria de um acordo com as empresas aéreas nacionais.

Fábio Campos, diretor de relações institucionais, aeroportuárias e comunicação da Azul, diz que a companhia recebeu a ideia com bons olhos. “É uma proposta diferente, acho que vamos poder debater e estamos ansiosos até para começar a conversar mais sobre o programa.”

O diretor afirma que o governo não apresentou mais detalhes às companhias aéreas e que ficou sabendo da ideia após a entrevista do ministro Márcio França. Até o momento, ele não foi convidado para nenhuma reunião sobre o assunto, mas acredita que deve sentar para conversar com integrantes do Executivo em breve.

O que se sabe até agora é que a proposta prevê aproveitar os espaços vagos nos voos. Atualmente, as companhias brasileiras operam com 80% de ocupação, em média.

“Nenhum lugar do mundo roda com 100% de ocupação, acho que é impossível isso. Mas se há oportunidades para fomentar mais viagens de mais brasileiros, eu não vejo porque não sentar para discutir. É tudo muito principiante ainda, mas estamos vendo como uma oportunidade interessante”, diz Campos.

Boa vontade semelhante é indicada pela Gol. Em nota, a companhia disse que nasceu com o propósito de democratizar a aviação no Brasil. “[Estamos] sempre à disposição para contribuir com o Governo na viabilização de um projeto que amplie ainda mais o acesso da população ao transporte aéreo”, afirma.

Procurada, a Latam disse que não iria se manifestar.

A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) afirma estar acompanhando a proposta do governo e que tem se colocado à disposição para contribuir.

“Desde o início do ano, a Abear e suas associadas mantêm diálogo constante com o Ministério de Portos e Aeroportos sobre o cenário do setor aéreo e as possíveis soluções para o crescimento do número de passageiros e destinos atendidos.”

Fábio Campos, da Azul, chama de absurdo o fato de moradores de países com dimensões menores, como Colômbia e Chile, viajarem mais de avião que os brasileiros. Por isso, ele diz que tudo que puder ser feito para aumentar o acesso ao modal aéreo no país vale a pena ser discutido.

Contudo, o diretor avalia que a democratização também passa por outras questões caras ao setor, como o preço do querosene de aviação, a desvalorização do real frente ao dólar e a alta judicialização do setor aéreo.

“É importante ter programas que vão trazer esse ganho rápido, mas há questões estruturais no transporte aéreo que precisam ser atacadas”, afirma.

Recentemente, as companhias aéreas se reuniram com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para tentar baixar os preços das passagens.

As empresas buscavam reduzir o valor do querosene de aviação, que representa cerca de 40% do valor dos bilhetes.

Lula repreende “genialidades” de ministros Ao falar sobre o programa de passagens a R$ 200, Márcio França disse que o programa era um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesta terça (14), Lula repreendeu ministros que divulgam “genialidades” sem consultar o Planalto. Em reunião ministerial, o presidente cobrou duramente os titulares das pastas para que não anunciem políticas públicas que não tenham sido apresentadas e recebido o aval da Casa Civil.

Lula não citou os nomes dos ministros cobrados, mas a fala foi percebida como um recado para França.

“Não queremos propostas de ministros. Todas as propostas de ministros deverão ser transformadas em propostas de governo, e só serão transformadas em proposta de governo quando todo mundo souber o que vai ser decidido”, afirmou o presidente.