A ideia era fazer uma road trip a bordo de um Ford Ka adaptado como um mini motorhome por toda a América do Sul e, claro, conhecer lugares incríveis e diferentes culturas. No meio do caminho, surgiu uma pandemia e a viagem por dez países passou a ser apenas por dois, Argentina e Chile, o que não atrapalhou seus planos.

Nem mesmo os 52 dias em que se viu obrigado a ficar parado no Chile, sem poder seguir viagem ou voltar para casa, deixaram o viajante gaúcho Gustavo Blume, de 28 anos, abalado. Durante esse período ele pescou, fez um grande amigo e ainda criou um personagem para lhe fazer companhia em suas redes sociais: o Indiana Jones dos Pampas.

O plano

A decisão de levar adiante o antigo sonho foi tomada no início de 2019. “Eu queria rodar por toda a América do Sul, mas sem roteiro e cronograma rígidos. Era um plano flexível, que me permitia parar se encontrasse algum lugar legal inesperado”, conta.

A inspiração veio dos inúmeros relatos de viajantes que ele acompanhava nas redes sociais. Gustavo confessa que, a princípio, a ideia era ir de moto, mas as dificuldades o fizeram repensar. “Montar e desmontar barraca todos os dias dá um trabalhão”, diz, rindo. Decidiu, então, ir de carro. Só que a grana não permitia investir em um motorhome propriamente dito. Entretanto, a solução estava bem ali, na garagem: o seu fiel companheiro de trabalho, um Ford Ka.

O carro

Gustavo trabalhava como representante comercial em uma empresa de alimentos e era responsável pelas contas mais importantes. As viagens eram constantes e, a bordo de um carro com motor 2.0, logo viu que precisava de um modelo mais econômico.

Depois de uma pesquisa minuciosa, visitas a concessionárias e test-drives, o Ford Ka 1.0 foi o escolhido. “Eu sempre achei ele muito bonito e vi que era confortável e econômico. Esse motor três cilindros é sensacional, fiz mais de 17 quilômetros por litro na estrada.”

O Ka também o acompanhou em viagens a lazer, onde foi mais exigido. “Sempre tive esse espírito de pegar uma trilha para ir atrás de cachoeiras.” Então, ciente da sua robustez, sabia que o Ka estaria apto a encarar o desafio pela América do Sul.

 (Ford/Divulgação)

A transformação

Se tinha certeza de que, para a viagem, o Ka não precisaria de mudanças mecânicas, seja de motor, freios ou suspensão, Gustavo sabia que iria viver dentro do carro por cerca de oito meses – o tempo que ele calculava ficar na estrada. Por isso, junto com um amigo, elaborou um projeto para transformá-lo em um mini motorhome.

No interior, o banco do passageiro foi retirado, abrindo espaço para a instalação de uma cama e um compartimento de madeira com divisórias feitos sob medida.

Sobre o teto, foi instalado um bagageiro fechado e uma engenhosa caixa d’água, feita com canos de PVC, que carrega até 50 litros – mais do que suficiente para cozinhar, lavar louça e tomar banho, garante o viajante.

Para ter privacidade e impedir a entrada de luz, montou cortinas com pano grosso preto, que foram presas por ventosas em todos os vidros do carro. Apesar da rotina cheia de novidades, Gustavo diz que se acostumou rapidamente.

 (Ford/Divulgação)

Na Argentina

A primeira parte da viagem consistiu em descer até o extremo sul da Argentina, passando pelas cidades de Buenos Aires e Río Gallegos, além de outros locais famosos, como a Península Valdés, santuário de vida terrestre e marinha, e o quilômetro zero da Rota 40, famosa rodovia que cruza o país de norte a sul.

Questionado sobre qual lugar o deixou mais encantado naquele país, Gustavo não teve dúvidas em eleger Ushuaia, a cidade mais ao sul de todo o planeta. “É um lugar emblemático para qualquer viajante, tem uma energia boa, diferente. Eu me emocionei quando cheguei, fiquei por 15 dias e chorei quando fui embora”, lembra.

A pandemia

Ao deixar Ushuaia e partir rumo ao Chile, Gustavo já sabia dos rumores sobre a pandemia de Covid-19, mas ainda não tinha ideia da dimensão que a situação iria tomar. Cruzou a fronteira no dia 15 de março – horas depois, ela foi fechada.

“Fiquei sem internet ao entrar no Chile, pois o chip que estava usando era da Argentina e só horas depois consegui me conectar em um wi-fi”, explica. “Foi então que vi muitas mensagens da minha família e amigos avisando que as fronteiras seriam fechadas. Tentei voltar para a Argentina, pois lá o custo de tudo é menor, mas já era tarde.”

Como o fechamento temporário seria, inicialmente, de 15 dias, Gustavo decidiu procurar um lugar para se estabelecer e esperar. Viu no mapa uma estrada que terminava no “nada”, ao lado de um grande lago, e foi para lá. “Era um lugar bonito, calmo e isolado, e que ainda recebia água de degelo, limpa, que eu poderia usar para cozinhar e beber”,lembra.

Indiana Jones dos Pampas

Gustavo, então, ficou “morando” por duas semanas próximo ao lago e inventou uma divertida novidade para seus seguidores nas redes sociais, um personagem que acabou se tornando seu “companheiro de viagem”.

“Um dia vi um chapéu, achei bacana e imaginei que seria útil durante a viagem, em dias de muito sol. Meus amigos viram e disseram que eu estava querendo ser o Indiana Jones”, diz Gustavo, explicando a origem do personagem. “Eu entrei na onda: só se for o Indiana Jones dos Pampas!”

Gustavo estava pescando quando usava o chapéu e se lembrou de toda a história, decidindo gravar um vídeo incorporando o personagem. “Enquanto estava lá sozinho, enviava vídeos fazendo algumas brincadeiras para minha família e os meus amigos.”

O amigo Miguel

As duas semanas se passaram e as fronteiras permaneceram fechadas. Foi quando conheceu Miguel, cuidador de uma fazenda próxima e provavelmente único ser humano que morava em um raio de uns bons quilômetros.

“Ele havia me visto antes e decidiu perguntar se estava tudo bem”, conta Gustavo, que explicou a sua situação inusitada. O chileno, então, ofereceu ajuda. “Eu continuei dormindo no carro, mas lá dentro da fazenda. De dia, enquanto ele saía para os afazeres, eu buscava retribuir a hospitalidade. Limpava a casa, cortava a lenha e preparava as refeições.”

No total, foram 52 dias ali no Chile, até que ele conseguiu a liberação para cruzar a fronteira com a Argentina e rumar de volta para Ivoti, cidade onde mora no Rio Grande do Sul. Não completou o objetivo de rodar por dez países, mas voltou para casa com a certeza de ter feito um amigo. Tanto que Gustavo faz planos de voltar a colocar o Ford Ka na estrada.

“Talvez agora eu faça um percurso diferente, cruzando a fronteira lá no Norte do Brasil e depois vá descendo rumo ao sul. Mas também penso em esticar rumo ao Alasca, como muitos viajantes com quem cruzei na Argentina. Ainda não sei, mas é certo que quero voltar ao Chile e visitar Miguel, ficar lá umas duas semanas.”

As aventuras de Gustavo, além de registradas em suas redes sociais, viraram a minissérie Ka Estou Viajando pela América do Sul, produzida pela Ford e composta por seis vídeos curtos que trazem mais detalhes dessa rica experiência.

Dê o play, divirta-se e inspire-se!

Fonte: Viagem e Turismo