GUILHERME LUIS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sabrina Sato exala uma aura eletrizante. Depois de acordar cedo, rodopiar ao som de Miley Cyrus, gravar vídeos para o Instagram e fazer reuniões de trabalho, a apresentadora arranjou uma brecha na agenda para almoçar. Mas foi rápida. De barriga cheia, se embrulhou num roupão e, com um sorriso largo, sentou-se para receber a reportagem em seu camarim.

Ela estava prestes a gravar um episódio do The Masked Singer Brasil, apresentado por Ivete Sangalo com Priscilla Alcantara. Escalada para o time estrelado de jurados, ao lado de Mateus Solano, Taís Araújo e Eduardo Sterblitch, a ex-Record agora vai tentar adivinhar quem são os cantores misteriosos escondidos dentro de fantasias superelaboradas.

A terceira temporada do reality show musical, que estreia neste domingo (22), às 15h45, marca seu retorno ao canal aberto da Globo depois de quase 20 anos longe da emissora.

Foi depois de desistir da faculdade de dança no Rio de Janeiro para cursar jornalismo em São Paulo que a então anônima Sabrina Sato Rahal escolheu, em 2001, virar dançarina do Domingão do Faustão. O programa a levou a fazer pontas em novelas e entrar para o elenco da terceira edição do Big Brother Brasil, em 2003.

Sabrina diz que enfrentou resistência da família. À época, afinal, o reality não alavancava a vida de seus participantes como hoje. Seu carisma a levou intacta até o oitavo paredão, quando foi eliminada numa disputa contra Dhomini Ferreira, o vencedor daquela edição.

“Tão bonitinha. Mas, além de suas curvas, com todo o respeito, e seu sorriso alucinante, a gente começou a ver que tem uma pessoa muito legal morando aí dentro, né?”, discursou antes da eliminação Pedro Bial, para quem Sabrina virou xodó do Brasil.

Sabrina hipnotizou mesmo o país. Sua beleza somada ao riso solto lhe renderam uma oportunidade primeiro no rádio, ainda em 2003, quando entrou para a equipe Pânico, um fenômeno de audiência da época. “Amava o ‘Casseta & Planeta’ e queria fazer parte de uma turma também”, ela relembra.

Deu certo. Sabrina foi absorvida pela equipe primeiro sem ganhar nada e depois com um “salariozinho”, como define. O programa ganhou uma versão televisiva, na RedeTV!, para onde ela também foi levada, deixando para trás convites que recebeu para trabalhar na Globo.

No Pânico na TV, fez de tudo. Mastigou uma pimenta inteira até quase vomitar, bebeu um copo de água suja tirada do mar, irritou Justin Bieber em uma entrevista por não falar bem inglês, pulou de bungee jump vestida num maiô com estampa de oncinha e depois quase desmaiou.
Apesar de protagonizar tantas bobagens, Sabrina vê com saudosismo os tempos de Pânico. Diz que o programa foi, ao mesmo tempo, uma escola, uma faculdade e uma pós-graduação.

“Via tudo como um desafio, algo engraçado. Minha vida não caía na monotonia. Uma hora estava com uma roupa até abaixo do joelho porque ia entrevistar políticos em Brasília, depois estava de biquíni saltando de paraquedas. Era bem molecona. Me achava uma ‘Jackass'”, afirma, numa referência ao reality show da MTV que virou febre ao colocar seus participantes em situações perigosas e supostamente engraçadas.

Sato quase sempre aparecia com roupas minúsculas. Os figurinos decotados e sensuais a consagraram como um símbolo sexual dos anos 2000. Antes do Pânico, ela posou nua para a revista masculina Playboy duas vezes e, numa delas, foi descrita como “a mulher mais ousada da TV”.

À luz das discussões feministas que hoje movimentam o debate público, ela diz que já foi muito objetificada. “Talvez tenha sido por carregar isso de ser asiática, esse lance da sexualização da mulher asiática”, afirmou no “Papo de Segunda Verão”, um programa do GNT, canal pago da Globo.
Mas não foi exatamente no Pânico, ela diz, que se sentiu objetificada. “Isso acontece a vida inteira. Não depende da gente. Depende do lugar que a gente está. Acontece com a maioria das mulheres. As pessoas sempre vão falar da sua roupa e do seu corpo.”

Muitos espectadores se encantaram pelos traços orientais desenhados em seu rosto, numa época em que poucas pessoas com ascendência japonesa apareciam na televisão, uma ausência que Sabrina diz sentir até hoje e considera um problema grave.

“Sentia falta dessa representatividade quando era criança. Ainda existe o estereótipo de que as pessoas asiáticas são muito fechadas, mas não é verdade. O que não falta no mercado audiovisual são asiáticos talentosos”, afirma.

Talvez por causa disso, Sabrina quis estar em tantos lugares quanto pôde. Quando o Pânico já não era mais da RedeTV!, mas da Band, ela diz ter sentido a necessidade de respirar novos ares e, depois de dez anos com a trupe, abandonou o programa.

“Não adianta eu julgar aquela fase agora. É claro que reflito e levo para análise. Ninguém sai normal dessas. Não tenho vergonha de falar disso”, acrescenta, frisando que, apesar de se lembrar do Pânico com carinho, “não existe a menor possibilidade” de um programa como aquele funcionar hoje.

Sabrina assinou um contrato com a Record em 2013 para ganhar um programa próprio na emissora. Inquieta, ficou lá por oito anos até querer mudar de casa de novo. Foi então que chegou ao GNT no início do ano passado.

Agora mãe, ela foi alçada ao programa “Saia Justa” para discutir pautas feministas e temas cabeçudos, tendo gravado episódios sobre autoaceitação, cobrança pela perfeição profissional, nudez e a relação de poder entre uma mulher e seu corpo.

Foi assim que a apresentadora, que tem uma relação próxima com moda, passou a mesclar terninhos e croppeds. Hoje, é como se, ao mesmo tempo, fosse e não fosse a mesma pessoa. No The Masked Singer Brasil, aos 42 anos, ela vai brincar de detetive.

Sabrina até tenta ser séria quando precisa, mas nem sempre dá certo. Ao ser questionada sobre o que espera do governo de Lula, do PT, ela responde dando risada. “Carinho. A gente estava precisando. As falas dele representam liberdade e afeto. Acho que vai ser muito bom.”