JÚLIA BARBON
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio de Janeiro classificou como bem-sucedida a operação que deixou oito mortos nesta sexta (11) na favela Vila Cruzeiro, que faz parte do Complexo da Penha, na zona norte carioca.

A avaliação é a mesma que a do chefe da comunicação da PRF (Polícia Rodoviária Federal), que participou da incursão. As duas corporações entraram na comunidade por volta das 4h30 para cumprir ao menos um mandado de prisão contra Adriano de Souza Freitas, conhecido como Chico Bento, chefe do tráfico do Jacarezinho que teria fugido para lá após a ocupação da favela.

Uma pessoa que não teve o nome divulgado foi presa até o início da tarde, mas não foi Chico Bento. Segundo a Polícia Militar, foram apreendidos sete fuzis, um simulacro de fuzil, quatro pistolas, 14 granadas, veículos roubados e grande quantidade de drogas.

“A operação foi bem-sucedida. A gente lamenta a morte de oito pessoas, que poderiam ter sido presas, mas não acataram a ordem da polícia e resistiram à nossa ação. Se eles fossem presos, seria 100% [bem-sucedida], aliás, 99% porque faltou a prisão do Chico Bento”, disse à reportagem o tenente-coronel Uirá do Nascimento Ferreira, do Bope.
“A ação de hoje foi exitosa uma vez que, mesmo o principal alvo não tendo sido localizado, conseguimos recuperar um poderio bélico muito grande, um arsenal que é usado contra a própria população e contra o Estado. [] Não entramos com o intuito de matar, de ter efeito colateral”, afirmou o agente Marcos Aguiar, da PRF.

Os dois porta-vozes, no entanto, não souberam dizer qual era o número total de mandados de prisão objetivo da grande operação. Também questionada sobre quantos estavam sendo procurados, a Polícia Civil respondeu apenas que não participou da incursão.

Pela manhã, a PM informou que entrou na comunidade para conter criminosos “que estariam planejando ataques às forças de segurança que ocupam a comunidade [do Jacarezinho]”. Mas, questionado, o comandante do Bope demonstrou não conhecer essa ameaça. Disse que a área está muito segura e que, se existe, seria um dado de inteligência.

Segundo o Ministério Público, a justificativa enviada pela PM foi de que, “em resumo, a operação é excepcionalmente necessária para capturar líderes de uma organização criminosa que estão abrigados no Complexo da Penha, comandando de lá diversas práticas criminosas, inclusive em outras comunidades”.

O documento relata ainda “informações de inteligência dando conta de que a organização criminosa dominante na Vila Cruzeiro [Comando Vermelho] oferece apoio logístico para criminosos fugidos da polícia”.
Segundo os porta-vozes, o confronto que terminou com os oito mortos ocorreu em um único ponto. As equipes (não foram informadas quantas por motivos de segurança) entraram por diversos locais da comunidade, que fica cercada por barricadas para evitar o avanço de blindados.

Em um deles, segundo Ferreira, agentes do Bope e da PRF em dois veículos conseguiram retirar a barricada, mas foram atacados mais a frente por traficantes que estariam fazendo a contenção da casa onde Chico Bento estaria escondido. Aguiar diz que os traficantes estavam em diferentes posições, alguns deles em seteiras (buracos em muros) e motos.

O comandante do Bope afirma que os oito homens morreram no local, que não chegaram a ser socorridos e que a área foi isolada. A Delegacia de Homicídios foi acionada para fazer a perícia e deixou a favela no início da tarde. Os corpos foram levados ao IML (Instituto Médico-Legal), mas ainda não foram identificados.