cine luxor Cine Luxor Sessão PrivéOscar entrou e escolheu o melhor lugar. Estranhou, só ele no cinema.

Antes do filme, o noticiário com os fatos que marcaram a semana. Nossa, tinham parado com esse negócio há tanto tempo. Voltou agora, é? Lembrava disso, ainda era menino.

Um jogo de futebol. Uma praia tão selvagem, um político discursando no palanque. Viu uma placa de rua com seu nome. Mas como, se só dão nome de rua para gente morta? O zoom do cinegrafista não deixava dúvidas. Era ele mesmo, seu nome não admitia homônimo. O filme era velho e mudo, com o celuloide todo riscado. A cena parecia uma espécie de solenidade, com autoridades e familiares do homenageado presentes. Pessoas se mexendo rápido como num filme do Buster Keaton. Todos os homens de chapéu, nenhuma mulher sem estola. Viu uma moça com um decote imenso ao lado do padre, a boca e os olhos parecidos com os dele. Minha filha, minha neta, quem? E quando? Aquilo parecia ter ocorrido nos anos 10 do século 20. Então era minha avó ainda moça, só pode. Mas como o meu nome na placa?

Um suor estranho na testa. Um calafrio vindo da costela esquerda e irradiando até as canelas. Foi quando começou a faltar o ar. Na grande tela, o filme que passava agora era ele sozinho na plateia, a cena do que agora se passava. Mexeu a cabeça de um lado para outro, o filme na tela acompanhou. Era Oscar no cinema assistindo Oscar no cinema. Teve certeza de que no lugar do projetor havia uma câmera. Virou pra trás, na direção do facho de luz que enchia a tela. Foi engolido por um tubarão holográfico do Spielberg.

Fonte: Brazilian Voice