Nos Estados Unidos, o novo epicentro global da pandemia com cerca de 700 mil casos e 36 mil mortes neste domingo, o coronavírus não está atingindo a população igualmente. Mais casos — e mais mortes — são registrados entre as comunidades de migrantes da América Latina, segundo um levantamento feito pela BBC News Brasil.

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A concentração maior de imigrantes nos três estados que concentram em torno de 80% da população brasileira no país, além de grande contingente de migrantes da América Latina no geral são Nova York, Massachusetts e Flórida – que também veem casos de coronavírus aumentando.

Quando analisados os municípios que abrigam mais latinos, os números mostram que os habitantes dessas áreas tiveram entre 20% e 33% mais chances de adoecer e de morrer, em relação aos números do estado como um todo.

A BBC News Brasil cruzou a base de dados de municípios onde viviam os pacientes acometidos pela doença, compilada pelo jornal The New York Times a partir das informações dos serviços de saúde, com as projeções do censo americano de 2018 da distribuição populacional por raça e etnia nesses mesmos municípios.

Latinos em NY, MA e FL

Enquanto no Estado de Nova York houve 52,4 casos de Covid-19 para cada mil habitantes, nos municípios com maior concentração de latinos foram 66,2 casos por mil habitantes. Ou seja, nas áreas brasileiras e hispânicas, os moradores tinham 25% mais chances de ficarem doentes. O mesmo vale para mortes em Nova York, onde houve 1,1 mortes por mil habitantes. Nas áreas latinas, o número sobe para 1,3.

Em Massachusetts, enquanto a contagem na população geral é de 34,9 casos por mil pessoas, nos municípios com mais latinos o número sobe para 46,5 por mil, isto é, uma taxa de adoecimento mais de 30% maior. No mesmo Estado, a letalidade de moradores de municípios latinos foi 25% maior. Na Flórida, onde a epidemia ainda é menos grave, com 10,6 doentes pra mil habitantes no geral, municípios latinos somam 13,7 por mil e têm 50% mais mortes: 0,3 por mil contra 0,2 por mil no Estado.

“Os migrantes latinos já chegam nesta crise de saúde debilitados. Eles têm pouco acesso à saúde, precisam dividir o aluguel e por isso moram em casas aglomeradas com muitas pessoas, têm os trabalhos mais extenuantes e precários”, afirmou à BBC News Brasil Álvaro Lima, diretor de pesquisa da Agência de Planejamento e Desenvolvimento de Boston.

De acordo com uma pesquisa de 2013 do centro de estudos The Inter-American Dialogue, que se dedica a estudar questões sociais das Américas, cerca de metade dos migrantes latinos vivendo nos Estados Unidos preferia se automedicar a procurar ajuda clínica em caso de doença.

Ainda segundo o Inter-American Dialogue, 35% dos migrantes não têm seguro de saúde — o índice é maior entre os indocumentados. Os Estados Unidos não possuem um sistema universal público de saúde e o acesso a serviços médicos é caro — uma consulta em um serviço de pronto atendimento pode custar alguns milhares de dólares.

“Sem tratamento ou prevenção de doenças pré-existentes, o coronavírus pode levar a quadros mais graves para migrantes latinos que não têm recebido tratamento para hipertensão, diabetes ou outras doenças crônicas comuns no grupo. Não apenas o custo da saúde, mas a retórica e as políticas anti-imigrantes nos últimos anos impediram parte desse grupo de obter os cuidados de saúde necessários”, afirma Paul Fleming, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Michigan e especialista em temas de saúde de latino-americanos.

Na cidade de Nova York, que sozinha responde por mais de 200 mil casos da doença, a prefeitura reconheceu uma taxa alarmante: ali, um migrante latino tem duas vezes mais chances de morrer de Covid-19 do que um branco. “A verdade é que de muitas maneiras os efeitos negativos do coronavírus — a dor e as mortes que ele causa — se relacionam com nossas profundas e antigas disparidades no acesso à saúde”, afirmou o prefeito de Nova York Bill de Blasio, há uma semana.

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Fonte: Gazeta News