SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A paralisação do Campeonato Brasileiro está descartada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) por enquanto, mas isso não diminui a preocupação de dirigentes e empresários de atletas. O temor é que a Operação Penalidade Máxima, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás, envolva cada vez mais jogadores e, mais grave do que isso, chegue a árbitros.

A interpretação da confederação, segundo dirigentes ouvidos pela reportagem, é que a interrupção do torneio não é necessária porque as denúncias se referem apenas a partidas da competição nas séries A e B da temporada passada. Isso poderia mudar caso apareçam casos do Brasileiro de 2023 ou se juízes comecem a ser envolvidos. Isso não aconteceu.

Denúncia do Ministério Público, na última segunda-feira (8), apresentou novos nomes de jogadores supostamente ligados ao esquema de apostas. Isso foi possível após a análise do conteúdo de computadores e celulares apreendidos em fase anterior da operação.

Para o MP, o líder da quadrilha de apostadores é Bruno Lopes de Moura, um atleta de futsal. Segundo o promotor Fernando Cesconetto, outras 16 pessoas ainda podem se tornar réus.

A base do esquema envolvia aliciar jogadores a, em troca de dinheiro (pagamentos variavam de R$ 50 mil a R$ 500 mil), realizar determinadas ações durante as partidas, como levar cartão amarelo ou vermelho, fazer pênalti etc.

Ao Blog do Rodrigo Mattos, do UOL, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, reconheceu que o caso mancha a imagem da competição.

Nesta quarta-feira (10), o ministro da Justiça se Segurança Pública, Flavio Dino, ordenou que a Polícia Federal também investigue a manipulação de apostas esportivas.

A CBF enviou ofício ao ministério no qual afirma que tem adotado providências para censurar e punir tais práticas. A confederação, porém, diz não ter poder de polícia e sugere ao ministro que seja designada uma força tarefa que possa centralizar e controlar as investigações.

As investigações do Ministério Público foram iniciadas a partir de queixa do presidente do Vila Nova-GO, Hugo Jorge Bravo. No fim do ano passado, ele buscou provas sobre oferta de R$ 150 mil para um volante de sua equipe cometer pênalti contra o Sport, pela Série B. Ele sequer foi relacionado para a partida.

Jorge Bravo levou toda a documentação que conseguiu reunir para o Ministério Público, que iniciou a Operação Penalidade Máxima.

Nas 13 partidas investigadas, em sete há suspeitas que atletas tenham recebido dinheiro para levar cartões amarelos de forma proposital, outras duas para que fossem expulsos e quatro para que pênaltis fossem cometidos. Nem todas as ofertas foram aceitas. Já surgiram citações a outros atletas que ainda serão investigadas pelo MP.

Até agora, nove jogadores foram afastados por seus clubes após terem sido citados por apostadores ou em conversas com líderes da quadrilha pelo WhatsApp:

o zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos; o volante Fernando Netto, do São Bernardo; o zagueiro Kevin Lomônaco, do Red Bull Bragantino; o zagueiro Vitor Mendes, do Fluminense; o lateral Pedrinho e o meia equatoriano Bryan García, do Athletico; o volante Richard, do Cruzeiro; o lateral Nino Paraíba, do Amética-MG; o lateral Moraes, do Juventude. A reportagem solicitou um posicionamento de todos os atletas afastados. As assessorias de Eduardo Bauermann, Fernando Neto, Kevin Lomônaco, Vitor Mendes e Nino Paraíba informaram que eles não vão se manifestar neste momento. Athletico e Cruzeiro não responderam às solicitações a respeito dos atletas citados.

Em nota, a defesa de Moraes informou que ele passou a colaborar com as investigações e, assim, deixa de ser réu para ser testemunha.

“A defesa do atleta reforça que Moraes, a todo tempo, disse a verdade e colaborou para a instrução do processo da melhor maneira, por isso passou a ser testemunha, não figura mais como investigado/réu e, sim, após a homologação do acordo de não persecução penal, colaborador/testemunha.”
Ao jornal Correio do Povo, a defesa de Bruno Lopes de Moura criticou a prisão temporária do atleta, sem se referir diretamente à acusação.

No total, são 36 os citados em aplicativos de mensagens e que estão sob investigação.

Clubes questionam elenco

Diante das denúncias, clubes fizeram reuniões com seus elencos para debater o caso. Segundo a reportagem apurou, vários atletas, além dos já citados, que confessaram terem sido sondados por esquemas de apostas, mas afirmaram terem rechaçado as ofertas. Isso alarmou os cartolas.

Em algumas equipes, os jogadores ficaram irritados com colegas que aceitaram receber cartões ou cometer pênalti para faturar com apostas. A visão manifestada nas reuniões é a de que o caso colocou todos sob suspeita. Isso pode fazer com que qualquer erro em campo esteja sob suspeita. Em outros, houve tristeza por causa do colega afastado.

À Folha de S.Paulo dirigentes disseram terem pensado em rescindir contrato dos acusados, mas tiveram de pensar duas vezes ao serem aconselhados por advogados.

A base para a demissão seria a admissão das conversas com apostadores, mas isso pode não ser o bastante porque eles podem voltar atrás nos depoimentos. As equipes vão esperar os desdobramentos das investigações do Ministério Público.

Atletas podem ser banidos do esporte

Os jogadores envolvidos podem ser suspensos por até dois anos, segundo código disciplinar do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

Se houver pelo menos dois episódios diferentes em que o jogador negociou suborno, ele pode ser banido do esporte. É o caso, por exemplo, de Eduardo Bauermann.

Na esfera criminal, os envolvidos podem responder por associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção em âmbito esportivo, em pena de prisão que pode variar de dois a oito anos de prisão, além de multa.