Em Camden, a reconstrução começou com a demissão de todos os policiais em 2013 e seguiu com uma nova filosofia de como garantir a segurança pública. Parte da mudança em Camden foi a instrução para os policiais de que analisem bem a situação para tomar as melhores decisões.

“Insistimos que nossos policiais não precisam se apressar para resolver rapidamente todas as situações”, disse Lutz. “É bom desacelerar, é bom dar um passo atrás. Às vezes, é melhor colocar a arma no coldre e conversar.”

Pequenas decisões alternativas podem ser tomadas antes de uma decisão final importante, diz Greg Ridgeway, pesquisador de estatística da Universidade da Pensilvânia que estudou tiroteios que envolvem a polícia.

A reconstrução da polícia em Camden, uma cidade com menos de 80 mil habitantes, valeu a pena.

A cidade teve 2.152 crimes violentos em 2011, um dos índices mais altos em todo o país.

A reformulação da polícia fez o número de crimes violentos cair pela metade e aumentou sua taxa de resolução.

Além disso, as queixas de uso excessivo da força policial passaram de 65 em 2012, o número mais alto em New Jersey, para apenas 3 em 2019.

A mudança começou com a demissão de todos os policiais em 2013, incluindo Thomson, para recrutar aqueles que preencheram uma inscrição de 50 páginas, fizeram um teste psicológico, um exame físico e foram submetidos a um processo de entrevista.

“Mudamos toda a estrutura da organização e o sistema de premiação. Colocamos os policiais nas esquinas e dissemos que não queríamos que ninguém ficasse preso”, explica o agora ex-chefe de polícia.

A intenção era construir um senso de comunidade, que a polícia conversasse com as pessoas, as conhecesse, construísse a cultura coletivamente e mudasse a imagem do policial de “guerreiro” para “guardião”.

Os policiais não são mais recompensados por fazer mais prisões, mas por outros parâmetros de desempenho.

A Polícia de Camden trabalhou em colaboração com o Fórum Executivo de Investigação Policial, uma organização sem fins lucrativos, no desenvolvimento de sua nova estratégia.

O diretor do Perf, Chuck Wexler, disse à que eles adotaram um programa britânico de treinamento policial que enfatiza a comunicação, paciência e força mínima.

Isso envolve algumas táticas simples, como o policial simplesmente tirar o quepe para parecer mais aberto e menos belicoso.

No entanto, especialistas alertam que existem diferenças entre o Reino Unido e os Estados Unidos, onde há cerca de 300 milhões de armas fogo, o que coloca os policiais em maior perigo.

“Não se engane, há momentos em que a força será imediata e necessária”, disse Kevin Lutz, da Polícia de Camden. Mas a ênfase continua a ser valorizar a vida das pessoas, “independentemente do comportamento que elas estão exibindo no momento”.

Para Thomson, os pedidos para desmantelar as corporações policiais americanas são “um pouco estremos”.

Mas ele acredita ser necessário debater a transferência de fundos para programas comunitários e de treinamento policial para lidar com determinadas situações.

E, acima de tudo, gerar empatia com a comunidade: “Em uma sociedade democrática, uma força policial só é eficaz se tiver o consentimento do povo e, para ter o consentimento do povo, deve ser legítima”.

Fonte: Brazilian Press