Enquanto milhões de brasileiros com idade inferior a 60 anos, e que não se enquadram nos grupos prioritários, sonham tomar a vacina contra a COVID-19, milhares de mineiros de Governador Valadares que moram nos Estados Unidos, na faixa etária dos 30 anos, já receberam os imunizantes da Pfizer e da Moderna. Ao mesmo tempo em que revelam preocupação com parentes no Brasil, eles exaltam a felicidade por ter sido vacinados.

“Estou muito feliz de estar aqui nesse país e ter garantidos para mim e para a minha família alguns dos direitos básicos do ser humano”, comentou Flávia Rosado, de 35 anos, valadarense que há 10 mora em Ashland, Massachusetts, nos Estados Unidos.

Ela tomou a primeira dose da vacina contra a COVID-19, da Moderna, em janeiro. A segunda foi aplicada em fevereiro. Sentiu alguns efeitos colaterais, como inchaço no braço em que recebeu a aplicação inicialmente e, na sequente, muita dor no corpo. “Mas foi coisa rápida. No outro dia eu estava bem. Eu tomaria essa vacina quantas vezes fossem necessárias”, disse. Antes, Flávia havia contraído a COVID-19, no fim de 2020, mas teve sintomas muito brandos, segundo ela. Situação oposta viveu Fabiane Bodine, de 40, outra mineira de Governador Valadares, moradora de Lakeland, Flórida.

Ela também teve a doença, em novembro de 2020. Sentiu muita dor de cabeça e mal-estar generalizado, ficou de quarentena com sua família (marido e dois filhos) e relata que, depois de curada do coronavírus, continuou com sintomas de gripe e muito cansaço até janeiro deste ano. Para piorar, teve um contágio em dose dupla: COVID-19 e Influenza A. Fabiane tomou a vacina da Moderna em março, e teve essa prioridade por ser professora. Dias depois, já não se sentia assim tão privilegiada por causa da velocidade do programa de vacinação norte-americano. “Aqui no meu estado, logo depois que eu me vacinei, a vacina contra a COVID-19 foi liberada para pessoas com idade acima de 18 anos”, disse.

Protocolo

Nos Estados Unidos, diferentemente do que ocorre no Brasil, a pessoa toma a vacina contra o coronavírus e fica esperando de 15 a 30 minutos, sentada no local de vacinação, observada pelos profissionais de saúde. Se não acusar efeito colateral imediato, é liberada. Mas, em casa, são comuns relatos de febre, calafrios, dor no corpo. Foi o caso de Fabiane. Seu marido ficou febril. Mas nada que a impediu de trabalhar e seguir a vida.

Em Governador Valadares, a médica coordenadora de imunização da Secretaria Municipal de Saúde, Márcia Cordeiro, disse que quem toma a vacina CoronaVac ou AstraZeneca é liberado imediatamente. “Orientamos a pessoa que, caso tenha algum sintoma, que volte à sala de vacina para fazer a notificação e procurar atendimento médico. Recebemos algumas poucas queixas, como febre, dor no corpo, dor de cabeça, diarreia, mas tudo muito leve”, descreve a médica.

Vacinada lá e com os pais na fila aqui

Com sintomas ou sem sintomas, a verdade é que os mineiros de Governador Valadares que moram nessa cidade do Vale do Rio Doce invejam os amigos e parentes que se deslocaram para cidades norte-americanas. Fabiana Neves, de 35, disse que suas primas que vivem em Marlborough, cidade do estado de Massachusetts, bem mais novas que ela, já tomaram a segunda dose e estão tranquilas. “E eu aqui em Valadares sem saber quando vou me vacinar”, compara, sem tom otimista. “Quem sabe no fim do ano?”

Patrícia Miranda de Souza-Roland, de 35, mais uma imigrante valadarense jovem e imunizada contra a COVID-19, moradora do Condado de Burlington, New Jersey, está segura por ter se vacinado, mas se preocupa com os pais, que moram em Governador Valadares. Eles não foram imunizados ainda, por não se enquadrar na faixa etária acima de 65 anos, conforme a programação municipal. Em tempos de pandemia, em que prevalece o clima de tensão e tristeza, Patrícia receita paciência ao tratar do assunto que incomoda os valadarenses, como a vacinação lenta, em contraponto com a velocidade em que ocorrem as mortes.

“Aguentem firme! A hora de vocês se vacinarem vai chegar. Enquanto essa hora não chega, não se aglomerem e tomem todos os cuidados”, disse, lembrando que agora a maioria dos americanos está ansiosa para sair de casa, se divertir, abraçar os amigos. “Mas lembrem-se de que, mesmo depois da vacina, ninguém pode se descuidar”, recomenda.

Vacinação para todos acima de 18

O governo dos Estados Unidos anunciou que o país conseguiu vacinar metade de sua população adulta com pelo menos uma dose do imunizante contra o coronavírus e começou ontem a aplicar os fármacos em todas as pessoas com mais de 18 anos, enquanto o vírus faz estragos em outros países, como Índia e Peru. As notícias positivas dos Estados Unidos, o país mais afetado do mundo pela pandemia, são divulgadas em um momento de flexibilização das restrições em várias nações europeias e do início de um corredor de viagens, uma “bolha”, sem a necessidade de quarentena, entre Austrália e Nova Zelândia.

Ao mesmo tempo, nações como a Índia, que registrou mais de 273.810 casos nas últimas 24 horas, estão sofrendo nova onda de contágios e seu sistema de saúde está à beira do colapso. Na América Latina, a pandemia também avança com força. O Peru registrou no domingo, pela primeira vez, mais de 400 mortes diárias por COVID-19, em uma fase de aumento de contágios provocado pela variante brasileira do vírus. O governo anunciou o retorno, a partir de 25 de abril, de quarentena dominical obrigatória em Lima e em 41 das 196 províncias peruanas, principalmente da zona andina e da costa, consideradas em “risco extremo”. // Estado de Minas Gerais.

Fonte: Brazilian Press