Na última sexta-feira, 14, mais 80 brasileiros foram deportados pelos Estados Unidos e chegaram ao Aeroporto internacional de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte. De outubro até hoje, foram 330 brasileiros deportados em quatro voos fretados pelo governo americano.

A maioria é composta por brasileiros que entraram ilegalmente nos EUA pela fronteira com o México. Em entrevistas logo após a chegada, ainda no aeroporto, nos dias 7 e 14 de fevereiro, alguns contaram como foram os dias que passaram enquanto aguardavam a deportação. Muitos estavam detidos há quase 20 dias, há mais de dez sem tomar banho, todos bem mais magros do que quando partiram e abatidos.

Nos relatos ouvidos pela BBC News Brasil e pelo G1, muitos disseram que tiveram roupas, bagagem e até dinheiro extraviados no período em que estiveram detidos.

“Jogaram nossa roupas fora, viemos com as roupas deles. Nossas carteiras, documentos, tudo jogou fora. Minha identidade, CPF, ficou tudo com eles”, contou um dos passageiros, de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, que preferiu não ser identificado.

Muitos chegaram vestindo moletons e calçados distribuídos pelos agentes de imigração como uniforme. Alguns traziam nos pulsos as pulseiras coloridas com seus números de identificação e a temperatura de cada um. Todos diziam que estavam há pelo menos dez dias sem tomar banho, e há mais de 12 horas sem comer nada, tanto adultos quanto crianças.

“O tratamento é péssimo, péssimo mesmo. A gente dormia no chão”, relatou a faxineira Gleiciana dos Santos, que chegou no último voo. A BH Airport informou que aeronave trouxe 40 crianças e adolescentes entre os passageiros. A mulher ficou detida nos EUA junto com o filho de 8 anos.

“Tem uma sala que eles dão uma manta, é frio. Eles não estão nem aí com menino gripado, com menino doente, entendeu? Colocam todo mundo para dormir no chão”, completou Gleiciana.

Já a dona de casa Eliane Rosa Andrade — que chegou acompanhada dos dois filhos, de 4 e 6 anos de idade, disse que seguiria para a rodoviária de BH. “Eu vou la para a rodoviária para ver se consigo passagem. Vou ficar lá até que alguém me dê um dinheiro para eu ir embora com eles”, disse.

Deportada no dia 7 de fevereiro, para a rondoniense Joyce, 22, a parte mais dolorida dos 18 dias em que ficou detida foi se sentir impotente diante do sofrimento prolongado da filha, de três anos de idade. “Para mim, o que mais doeu foi ver a minha filha chorar e apontar o dedinho vendo e pedindo uma bolacha, com fome, e eles negarem”, relembra, sentada no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, enquanto tenta com o marido decidir como a família voltará para casa, em União Bandeirante, Porto Velho (RO).

Pamela Cristina, 21 anos, de Governador Valadares, parece abatida e emocionada ao falar da experiência no saguão do aeroporto, recém-chegada após 18 horas de viagem de ônibus e avião. “É muito sofrido. A gente entra com uma mente sadia e sai com uma mente doente, aterrorizada. Muito doente”, diz. “A gente se sente um lixo, a pior coisa do mundo. Eles falam pra gente ‘aqui não é sua casa. Se você quisesse ser tratada bem, você ficava na sua casa’. A gente vem atrás de uma vida melhor para a família da gente, acaba achando isso.”

“Eles tratam a gente como se fossemos delinquentes mesmo. Eu sei que a gente estava entrando ilegal, que não é certo. Mas a gente tenta o visto e eles não dão, né? A gente quer ir para trabalhar. Não quer ir para roubar, não quer ir para fazer nada, mas eles tratam a gente como delinquente”, lamenta, emocionada.

Segundo a Polícia Federal “voos com essas características podem se tornar frequentes”. A PF disse ainda, em nota, que realizou “os procedimentos de controle migratório, uma de suas competências definidas pela Constituição da República” e que “não constatou nenhuma ilegalidade conexa à migração dos deportados e segue investigando casos suspeitos”.

Lembrando que o correto para imigrar para um outro país é ter um visto de entrada autorizado pelas autoridades competentes, seja ele de turista, estudante, investidor, etc. E que também, a permanência após o prazo permitido sem que haja nenhuma solicitação para legalização do status imigratório também é contra a lei.

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Fonte: Gazeta News