Laudo preliminar da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais identificou a presença do monoetilenoglicol no corpo de um dos cachorros mortos por suspeita de intoxicação após consumir petisco da marca Bassar. Ao menos nove mortes de cães são investigadas em Minas em São Paulo.

“Fizemos alguns exames e, até agora, identificamos o monoetilenoglicol em um dos diversos produtos que estamos recebendo, mas ainda existem muitos outros a serem encaminhados para análise, que ainda está em andamento. Ainda há muito trabalho a ser feito para chegarmos a uma conclusão mais precisa”, afirma a perita criminal da Polícia Civil de Minas Renata Fontes.

Conhecida também como etilenoglicol, a substância é geralmente usada para refrigeração e encontrada em baterias, motores de carro e freezers ou geladeiras. “No atendimento de animais, suspeitamos desse líquido quando temos o histórico de que o animal lambeu alguma dessas máquinas”, explica Anne Pierre Helzel, assessora técnica do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

“Como ele tem um gosto docinho, os animais normalmente querem ingerir e não param. É diferente de outros venenos que têm gosto repugnante”, explica Anne. Segundo ela, a ingestão do etilenoglicol deixa “algumas lesões características” que podem ser observadas por exame microscópico, o que torna fundamental um trabalho de autópsia nos cachorros intoxicados.

A médica veterinária alerta também que, uma vez ingerida, a substância é rapidamente absorvida pelo organismo dos animais. Assim, a rapidez na identificação é primordial para o tratamento. “Se conseguimos pegar o caso até uma hora depois, fazemos a lavagem gástrica para tirar o que foi absorvido. Agora, se o líquido passar do estômago, é absorvido e pode causar enjoo e diarreia, por exemplo.”

Após a intoxicação, a principal área atingida é o sistema nervoso do animal, que passa a apresentar sintomas similares à embriaguez por álcool: ele fica “frustrado, sonolento e apática em um canto”, tem descoordenação motora, não consegue andar em linha reta e fica cambaleando ou caindo, além de perder o reflexo do equilíbrio.

“Depois que o líquido é processado, o animal pode apresentar acidose e vai tentar diminuir a quantidade de hidrogênio no próprio sangue. Então, vai hiperventilar. Ele fica prostrado e ofegante. Ao mesmo tempo, o corpo vai tentar eliminar o etilenoglicol e os ácidos metabólicos, mas quando isso passa pela urina causa a necrose e aí vem a falência renal”, aponta Anne.

O etilenoglicol é o mesmo líquido que causou a intoxicação de 29 pessoas que consumiram a cerveja Backer, em 2019. Na época, dez pacientes morreram após ingerirem a bebida. Em nota, a Bassar Pet Food, fabricante dos petiscos consumidos pelos animais nesta semana, afirmou que colabora com as investigações e presta orientações aos consumidores que entram em contato com a empresa.

Anne aponta que, para manter a segurança dos animais, o principal ponto da investigação agora deve ser identificar em que etapa da produção pode ter sido gerada a suposta contaminação. “Não é que alguém tenha comprado e adicionado o etilenoglicol por maldade ou usado produtos de qualidade inferior. Mas pode ter acontecido de alguma máquina vazar ou ter algo com a matéria-prima.”

Na tarde desta sexta-feira, o Ministério da Agricultura informou que interditou a fábrica da Bassar em São Paulo e determinou o recolhimento dos produtos. Em nota, a empresa disse que interrompeu a produção de sua fábrica “até que sejam totalmente esclarecidas as suspeitas de contaminação de pets envolvendo lotes de seus produtos”. “A empresa também está contratando uma empresa especializada para fazer uma inspeção detalhada de todos os processos de produção e do maquinário em sua fábrica, em São Paulo.”