(FOLHAPRESS) – O governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta quarta-feira (16) uma quarta dose de vacina contra a Covid para pessoas com mais de 80 anos.

Veja o que se sabe até agora sobre como será a aplicação da quarta dose em São Paulo e entenda como esse reforço tem sido usado no Brasil e no mundo.
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Quem pode tomar a quarta dose no estado de São Paulo?

Até o momento, somente imunossuprimidos estavam aptos a receber a nova dose adicional em São Paulo. A partir do dia 21 de março (próxima segunda-feira), porém, todas as pessoas com mais de 80 anos poderão tomar a quarta dose da vacina contra a Covid no estado.

A aplicação, no entanto, não tem como o único critério a idade. Além de ter mais de 80 anos, a pessoa também deverá ter tomado a terceira dose há pelo menos quatro meses.

“Por que a população de 80 anos e mais? Porque essa é a população mais vulnerável”, disse, na tarde desta quarta-feira, Regiane de Paula, coordenadora-geral do Programa Estadual de Imunização. Segundo ela, essa população está estimada em cerca de 900 mil pessoas em São Paulo.

A indicação dessa faixa etária é uma orientação do Comitê Científico da Covid do estado, que levou em conta o “alto índice de mortalidade entre os idosos desta faixa etária durante a circulação da variante ômicron”.

A taxa “foi superior aos óbitos ocorridos nos dois outros picos da pandemia em 2020 e 2021”, segundo a Secretaria de Estado da Saúde.

Há previsão da quarta dose para outros grupos em São Paulo?

Regiane de Paula também afirmou, durante o anúncio nesta quarta-feira, que existe a possibilidade de a faixa etária para a quarta dose ser expandida para população a partir de 60 anos.

E o Ministério da Saúde? O que o governo federal diz sobre a quarta dose?

A ação do estado de São Paulo difere da orientação do Ministério da Saúde. Procurado, o ministério afirmou que, até o momento, recomenda esquema vacinal com três doses e “a dose de reforço, apenas para os brasileiros imunossuprimidos acima de 12 anos”.

São parte desse grupo, por exemplo, pessoas que fazem quimioterapia, que fizeram algum transplante de órgão ou de células-tronco, que vivem com HIV/Aids ou que fazem hemodiálise.

A reportagem questionou se há alguma análise em andamento para ampliar a recomendação, mas não obteve resposta até a conclusão desta reportagem.

Quais vacinas serão usadas em SP para a quarta dose?

Segundo o anunciado em coletiva de imprensa, nesta quarta-feira, qualquer um dos imunizantes até o momento liberados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pode ser usado nessa fase da campanha em São Paulo.

Ou seja, as pessoas podem receber as vacinas da Pfizer, da AstraZeneca/Oxford (Fiocruz), da Janssen ou a Coronavac (Butantan).

Devo tomar uma vacina diferente da dose de reforço e das doses iniciais?

A reportagem perguntou à Secretaria de Saúde do estado de São Paulo sobre a recomendação ou não de aplicação de regimes heterólogos (quando se aplica uma vacina diferente da recebida anteriormente). A secretaria não respondeu até a publicação do texto.

Idosos com comorbidades serão priorizados para a quarta dose?

A reportagem procurou a Secretaria de Saúde do estado de São Paulo em busca de detalhes e não obteve resposta também para esse ponto.

Todos os postos de saúde aplicarão a quarta dose?

A reportagem procurou a secretaria estadual e não obteve resposta. A secretaria municipal também foi questionada, mas não houve retorno.

O que dizem os estudos sobre a necessidade e eficácia de uma quarta dose?

Até agora, não há evidências suficientes que comprovem a necessidade de uma quarta dose das vacinas de maneira ampla, para todas as pessoas.

De toda forma, especialistas têm afirmado que ela é recomendada para pessoas com maiores riscos de desenvolver um quadro de Covid grave, como as que possuem sistema imune comprometido, entre elas pessoas que fazem tratamento contra câncer, pessoas com HIV/Aids e transplantados. Idosos, pela imunossenescência, também podem ser beneficiados pela quarta dose.

Um estudo em Israel, por exemplo, mostrou que há um aumento da quantidade de anticorpos após a quarta dose semelhante ao que é observado no pico com a terceira dose, mas sem tanto sucesso na prevenção de infecções.

A pesquisa observou 274 profissionais da saúde que receberam três doses de imunizantes feitos com plataformas vacinais de RNA mensageiro (Pfizer e Moderna) mais uma dose de Pfizer.

Outro estudo israelense apontou que a quarta dose da Covid não impediu a infecção por ômicron, mas o período curto de reforço (apenas um mês) pode não ter sido o suficiente para impedir a entrada do vírus.

Outros países estão oferecendo a quarta dose para quais grupos?

Na semana passada, a França também anunciou uma quarta dose da vacina contra Covid para pessoas com mais de 80 anos que receberam a dose de reforço há mais de três meses. O anúncio foi feito após um repique de casos.

Na Alemanha, a comissão de vacinação recomendou uma quarta dose, após seis meses da terceira, para grupos de risco, como aqueles com mais de 70 anos, imunossuprimidos, pessoas que vivem e trabalham em casos de repouso e profissionais de saúde.

Nos EUA, a Pfizer tenta autorização da FDA (agência americana de regulação de drogas e alimentos) para uma quarta dose de sua vacina em pessoas com mais 65 anos ou mais.

Israel disponibiliza a quarta dose para todos os profissionais de saúde e pessoas acima de 60 anos. O Canadá oferece para a população acima de 18 anos três meses após a terceira dose.

Na Dinamarca, podem tomar os indivíduos com maior risco e acima de 60 anos. Já o Chile começou a vacinar sua população com 55 anos ou mais com quarta dose em fevereiro.

Mais recentemente, a Suécia disponibilizou a nova dose de reforço para idosos acima de 80 anos, e a Coreia do Sul, para trabalhadores de saúde e pessoas vulneráveis.

O que sabemos em relação ao perfil de segurança da quarta dose?

De maneira geral, os efeitos adversos que ocorrem com as doses de reforço da vacina são leves, e espera-se que o mesmo seja observado com a aplicação da quarta dose.

No estudo de Israel com 274 voluntários, os principais eventos adversos foram locais (80%), desaparecendo em até dois dias.

Estudos mostram também que a frequência de eventos adversos pós-vacinação diminui com os reforços. Isso não significa que eles devam ser negligenciados.

A eficácia das vacinas diminui com o passar do tempo? O que muda com a variante ômicron?

Os estudos feitos até agora mostram que duas doses das vacinas ou a dose única da Janssen, frente à ômicron, têm eficácia reduzida.

Segundo um levantamento do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), a eficácia da dose de reforço cai após quatro meses. Mesmo com a queda, a proteção continua alta, em torno de 78%, diz o órgão.

Já uma pesquisa nacional feita no Reino Unido apontou que, no contexto da ômicron, a dose de reforço proporciona uma proteção 20 vezes maior para hospitalização e óbito comparada a indivíduos com apenas duas doses. O recorte etário foi acima de 50 anos.