(FOLHAPRESS) – O número de mortes por dengue no estado de São Paulo nos cinco primeiros meses deste ano é ao menos 139% maior do que em todo o ano passado, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde e do Ministério da Saúde.

Segundo boletim epidemiológico do ministério, no ano passado, a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti ​provocou 63 mortes em São Paulo -este dado é reportado pela gestão paulista à pasta.

Neste ano, de janeiro até o dia 17 do mês passado, houve 134 óbitos no estado, também de acordo com mesmo boletim do ministério.

Já a secretaria paulista, com informações mais atualizadas, diz que, neste ano, até o último dia 24, ocorreram 151 mortes. A pasta da gestão de Rodrigo Garcia (PSDB) não forneceu à reportagem o número observado no mesmo período do ano passado.

A soma também supera a registrada em 2020 inteiro, quando houve 144 mortes, porém fica abaixo em relação à de 2019, quando houve 273.

Nos anos anteriores, as mortes se concentraram nos primeiros meses de ano. De janeiro a maio de 2019, por exemplo, houve 234 mortes. No mesmo período de 2020, foram 129, e, no de 2021, 45.

Nacionalmente, a última estatística do Ministério da Saúde também contabiliza dados de mortes até 17 de maio. Na comparação com os de 2021 inteiro, o total de óbitos teve alta de 55% -de 246 registros para 382.

Segundo a pasta federal, o coeficiente de letalidade por 100 mil habitantes no estado de São Paulo é de 0,07. A média nacional é de 0,05.

O número de casos confirmados em São Paulo também é maior agora do que o de 2021 inteiro.

De janeiro até 24 de maio deste ano, o governo paulista havia registrado 194,6 mil pacientes infectados nos municípios do estado, contra 141.049 dos 12 meses do ano passado -38% a mais.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, o número de casos é deste ano é “quase 71% menor que 2015, pior ano da doença”, e o de óbitos, 69% inferior. “Os dados deste ano também são inferiores que o mesmo período em anos de sazonalidade da doença, como 2019, por exemplo, sendo 49% menores com relação aos casos e 37% quanto aos óbitos”, acrescentou a pasta.

O governo Rodrigo Garcia (PSDB) afirma que disponibilizou R$ 10,7 milhões no apoio a prefeituras para controle da dengue, zika e chikungunya.

“Os 291 municípios beneficiados foram selecionados com base nos indicadores epidemiológicos e entomológicos”, diz a secretaria. “Os recursos serão utilizados em ações de combate à disseminação do mosquito transmissor e monitoramento dos casos notificados.”

Sem mortes registradas, a cidade de São Paulo igualmente enfrenta alta de casos. Neste ano, 8.665 pessoas tiveram dengue contra 7.426 de todo 2021, ou seja, já há 17% a mais de infectados atualmente contra o ano passado inteiro.

Luiz Artur Caldeira, diretor da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da capital paulista, não vê como uma disparada o aumento no número de casos e aponta a sazonalidade provocada principalmente pelo clima, para a alta atual.

Entretanto, ele diz que em 2023 os indicadores devem ser ainda maiores. “A tendência é que de cinco em cinco anos há um aumento importante na proliferação do mosquito, por causa das condições climáticas.”

Caldeira cita o alto número de infectados em 2019, com quase 16,7 mil casos no município, como o início de alta anual dos casos

“Temos equipes destinadas em combater o vetor que trabalham o ano todo, mas quando chega na sazonalidade, fazem um combate mais intensivo”, afirma.

Segundo ele, quando há notificação, a unidade de vigilância em saúde da região onde mora o paciente vai até a região para fazer varredura casa a casa, com ações nas ruas e quarteirões próximos para tentar eliminar criadouros e fazer nebulização.

O diretor da Covisa, porém, alerta para a dificuldade que equipes de combate ao mosquito têm enfrentado para fiscalizar possíveis criadouros. Segundo ele, entre 30% e 40% dos domicílios impedem a entrada dos cerca de 2.500 agentes da prefeitura.

De olho na alta de 2023, já nos meses finais deste ano, quando a proliferação do Aaedes aegypti é menor -a explosão de casos geralmente ocorre entre março e maio, por causa de dias quentes e chuvas-, a saúde municipal pretende intensificar o trabalho de vigilância epidemiológica, ou seja, antes da sazonalidade vai captar e analisar amostras de mosquitos.

“Com a vigilância entomológica, pretendemos bloquear a transmissão antes mesmo de a doença chegar às pessoas”, afirma Caldeira. “Estamos redesenhando as equipes para que façam o combate com larvicida e inseticida, identificando precocemente o problema.”

EM TODA A CIDADE

No fim de maio, a Vila Matilde, na zona leste, tinha a maior incidência de casos, com 247,4 infectados por 100 mil habitantes.

Mas, no ranking dos dez bairros com maiores índices, observa-se que o vírus está espalhado tanto em bairros da periferia quanto em bairros nobres, como o Itaim Bibi.

Para Maria Anice Mureb Sallum, professora do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), é importante considerar os fatores sociais na dinâmica de transmissão em áreas ricas e pobres. “Não adianta ter uma medida de controle única para a cidade inteira, não funciona. É preciso adaptar, de acordo com a situação local.”

No caso das periferias, explica, a urbanização acelerada, com construções sem infraestrutura básica, é um agravante para a proliferação de arboviroses, doenças transmitidas por mosquito.

“Isso é evidente em São Paulo e também em outras regiões do Brasil, como no Nordeste e no Amazonas”, diz a professora, que cita falta de saneamento e distribuição de água como fatores para o aumento de pacientes.

O Ministério da Saúde registrou até 24 de maio 1.036.505 casos prováveis de dengue em todo o país. Quando comparado com o mesmo período de 2021, ocorreu um aumento de 191,3%.

Segundo a professora, em geral no país as medidas de controle do Aedes foram reduzidas ou descontinuadas durante os dois primeiros anos da pandemia de Covid-19. E a diminuição no controle favoreceu tanto a presença quanto o aumento da densidade do mosquito.

Outro fator importante, explica, é a emergência do sorotipo 1 da dengue que, segundo ela, não circulava no Brasil desde o início dos anos 2000, e está de volta. “Quando emerge um sorotipo que não circulava há quase 20 anos, muita gente que não teve contato com ele pode ser contaminada.”

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde lembra que enfrentamento ao mosquito aedes aegypti é uma tarefa contínua e coletiva. E cita medidas de prevenção para não acumular água, que vão da eliminação de possíveis criadouros e limpeza.

A Prefeitura de São Paulo afirma que no ano passado foram realizadas, 4,9 milhões de ações contra a dengue. Neste ano, o número já atinge cerca de 2,2 milhão de operações.

O Ministério da Saúde diz que diante do cenário de aumento de casos de dengue, no início do mês de maio foi instalada a Sala de Situação de Arboviroses, para intensificar as ações junto a estados e municípios.

A pasta federal diz ainda que foi enviado aos estados 49,8 milhões de pastilhas de larvicida para o tratamento de recipientes de água. “Neste período, foram distribuídos 5.099 Kg do inseticida para o tratamento residual em pontos estratégicos, como borracharias e, ferros-velhos. E para aplicação espacial (UBV), foram direcionados às UF 208.350 litros de Imidacloprido 3% + Praletrina 0,75%.”