RAQUEL LOPES, SAMUEL FERNANDES E THAÍSA OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério da Saúde confirmou a primeira morte associada à varíola dos macacos no Brasil. O paciente era um homem de 41 anos de Minas Gerais, que tinha tinha comorbidades e baixa imunidade.

Segundo a pasta, a causa do óbito foi choque séptico, infecção que foi agravada por monkeypox, como também é conhecida a doença.
“Trata-se de um paciente do sexo masculino, de 41 anos, com imunidade baixa e comorbidades, incluindo câncer (linfoma), que levaram ao agravamento do quadro. Ficou hospitalizado em hospital público em Belo Horizonte, sendo depois direcionado ao CTI [terapia intensiva]”, disse o ministério em nota.

A Secretaria da Saúde de Minas Gerais confirmou que o paciente estava em acompanhamento para “outras condições clínicas graves”. ​

O óbito no Brasil é o primeiro relatado fora da África no surto atual. Até a última quinta (28), cinco mortes haviam sido confirmadas pela doença no mundo, mas todas estavam concentradas no continente africano, segundo balanço oficial da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Nesta sexta (29), a Espanha anunciou uma morte associada à doença no país -a primeira no continente europeu. Nenhum desses óbitos -do Brasil e da Espanha- haviam sido incluídos no painel da OMS sobre a varíola dos macacos até a tarde desta sexta.

A entidade, que considera a transmissão da doença uma emergência pública de preocupação global, não se manifestou sobre as mortes até a publicação desta reportagem. Como o último relatório da organização foi divulgado na quinta, outros casos podem não ter sido computados.
“[A morte no Brasil] Não tem uma relevância só local. Tem também uma relevância mundial”, afirma Julio Croda, médico infectologista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, sobre a confirmação no Brasil.

Especialistas apontam que a ocorrência acende um alerta para necessidade de controlar o aumento de casos no país. “Temos que intensificar os esforços para conter essa doença”, diz Clarissa Damaso, virologista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e assessora do comitê da OMS para pesquisa com vírus da varíola.

Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), concorda que é necessário tomar medidas para vírus. Uma delas é a compra de vacinas. “Nós não podemos mais ficar esperando as pessoas adoecerem e morrerem”, diz.

Horas depois da confirmação da primeira morte, o Ministério da Saúde disse ter encomendado 50 mil doses de vacina contra varíola dos macacos. A expectativa é de que cerca de 20 mil doses cheguem em setembro e o restante em outubro.

A pasta afirma que o objetivo é vacinar os profissionais de saúde que lidam diretamente com amostras biológicas -como aqueles que trabalham em laboratórios- e pessoas que tiveram contato com os infectados.

“A OMS não recomenda [a vacinação] em larga escala. Basicamente, ela recomenda [a vacinação] dos trabalhadores de saúde, principalmente daqueles que fazem manuseio de amostras biológicas, e os contactantes dos pacientes infectados”, afirmou o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros.

A encomenda das doses foi feita por meio da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) à farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic. Existem apenas duas vacinas contra a varíola dos macacos no mundo.
O Ministério da Saúde declarou ainda que vai investigar as condições do paciente que morreu no país. “Trata-se de um paciente com outras comorbidades relevantes e estamos investigando a preponderância dessas comorbidades para esse desfecho”, afirmou o secretário-executivo da pasta, Daniel Pereira.

Segundo Damaso, da UFRJ, as pessoas imunossuprimidas têm maior risco para quadros graves da doença.

“Essa morte é algo que já prevíamos que poderia acontecer. Sabemos que grupos de gestantes, crianças e pessoas com imunossupressão são aqueles que devemos prestar maior atenção porque pode haver complicações muito graves da infecção por monkeypox.”
“Nós sabemos que a transmissão deve se expandir para outros grupos e para contato domiciliares. Já temos casos confirmados em crianças”, diz Croda.

Até esta quinta, o país já registrava 1.066 casos de varíola dos macacos em 14 estados e no Distrito Federal. Outros 513 continuam em investigação, enquanto 597 foram descartados.

Segundo o ministério, 95% dos pacientes com diagnóstico confirmado são homens. A média de idade é de 33 anos.

“A transmissão acontece por contato de pele, embora hoje tenhamos o predomínio de transmissibilidade entre homens que fazem sexo com homens”, afirmou Medeiros. “Isso não quer dizer que eles sejam o único grupo de risco porque a transmissão se dá pelo contato de pele.”

O ministério afirmou que também prepara campanhas de comunicação para explicar à população os sintomas e formas de transmissão. Planeja ainda expandir a capacidade de diagnóstico por meio dos laboratórios centrais de saúde, que são públicos.

Hoje, apenas quatro laboratórios analisam as amostras suspeitas de todo o Brasil: a Funed (Fundação Ezequiel Dias), em Minas Gerais, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e o Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo.

A varíola dos macacos é transmitida principalmente pelo contato com lesões na pele que os pacientes apresentam. A principal forma de prevenção é o isolamento de pacientes para evitar que outras pessoas tenham contato com os doentes.

Os principais sintomas são erupções na pele, febre, calafrios, dor de cabeça e inflamação dos gânglios linfáticos. As lesões na pele podem ser inclusive sutis, com aspecto similar ao de uma espinha.
A cidade de São Paulo registrou três casos de crianças com a doença. Segundo a Secretaria da Saúde, todas estão em monitoramento e sem sinais de agravamento. Esse foi o primeiro anúncio oficial de casos da doença em crianças no país.

Os casos em crianças preocupam porque elas são mais vulneráveis a complicações. Outro país que já confirmou diagnósticos em menores foram os EUA, com dois casos.