Cidades do Nordeste voltaram a registrar vestígios de óleo nas praias e temem reviver um pesadelo de três anos atrás em vários pontos do litoral brasileiro. Só no Estado de Pernambuco, mais de 400 quilos de material foram achados desde 25 de agosto.

A principal razão para o reaparecimento das manchas é a Corrente Sul Equatorial, predominante no Atlântico Sul, região onde há intensa rota de navios petroleiros, tornando alta a recorrência do fenômeno. Sua latitude coincide com o litoral nordestino, bifurcando-se ao norte, próximo ao Ceará, e no sul da Bahia. Segundo especialistas, é provável que registros desse tipo ocorram mais vezes. Os vestígios de óleo podem fazer longo percurso até as praias do Brasil.

“Se pegarmos o centro dessa corrente equatorial, ela está mais ou menos entre a latitude da Paraíba, de Pernambuco e Alagoas, mas a depender da situação vai um pouco mais ao norte ou ao sul”, explica Clemente Coelho Jr., professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco, e responsável por alertar as autoridades pernambucanas sobre o surgimento do material no último dia 25. Também foram notificadas manchas em Alagoas, Bahia, Paraíba e Sergipe.

Segundo ele, a Corrente Sul Equatorial, que sai da costa da África, espalha esse material. Esse poluente de agora pode ser o mesmo do vazamento de 2019 – em 2020 e no ano passado, fragmentos daquele período ressurgiram em algumas praias – ou de um novo vazamento. Só a análise das amostras, pela Marinha e pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), poderá determinar a origem do óleo.

Diferenças

Jesser Fidelis de Souza Filho, chefe do Departamento de Oceanografia da UFPE, para onde foram mandadas para análise as amostras colhidas em Pernambuco, diz que há diferenças visíveis em relação ao formato do óleo. Em 2019, o material chegou como um tapete de piche, com odor forte; agora, tem forma de pequenas bolas, sem cheiro intenso. “Outro fator interessante é a presença de organismos incrustados no óleo, o que indica que esse material não estava perto da costa. Precisaria estar flutuante há meses para ter esses organismos”, explica. “Trabalhamos com várias hipóteses, inclusive a de que, por ter aparecido no fim de agosto, mesma época de 2019, esse material poderia ter estado no fundo e, agora, com os ventos, a corrente, ter voltado à superfície”, diz.

“O melhor cenário seria que este fosse o mesmo óleo de 2019, pois um diferente significaria outro tipo de derramamento e novos desdobramentos”, diz ele, que conduz pesquisas sobre os efeitos do derramamento de óleo três anos atrás. “Nos estudos conduzidos em Itamaracá, Suape e Carneiros, em Pernambuco, percebemos que houve alteração no padrão de alimentação dos caranguejos, que estão buscando outros tipos de comida, fugindo da contaminação, deformações no sistema reprodutor de alguns aratus, o que pode gerar a incapacidade daquele grupo de reproduzir, entre outros, como deformações físicas nos caranguejos”, alerta Fidelis.

Até o momento, o Estado com a maior incidência dessas bolotas de óleo é Pernambuco, que recolheu 400 quilos de material em 12 municípios. Lá, foi criado um comitê para monitorar o problema, com Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade, a Agência Estadual de Meio Ambiente, o Ibama e Capitania dos Portos, com apoio de prefeituras.

Na Paraíba, foram encontrados em João Pessoa (Praias de Caribessa e Jacarapé), Conde (Praia do Amor, Carapibus, Coqueirinho, Tambaba e Grau), Pitimbu (Praia Bela, Praia Azul e Guarita, Pontinha e Acaú) e Cabedelo (Praia de Intermares, Ponta de Campina e Praia do Poço), mas as autoridades estaduais não informaram o quanto foi retirado dos locais.

Em Alagoas, foram constatados fragmentos de óleo, na Praia do Francês, no município de Marechal Deodoro, e um tambor em Coruripe, além de alguns pequenos fragmentos em Maceió, na Praia de Ipioca. Sobre a situação em Sergipe, a Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) monitora 163 km de litoral. Foram encontrados vestígios em nas praias de Abais, Dunas e Saco, no município de Estância, e Caueira e Coqueirinho em Itaporanga D’Ajuda, todas no litoral sul.

Na Bahia, segundo a Marinha, foram achados fragmentos nas Praias de Arembepe, Itacimirim, Stella Maris e Piatã, Ilha de Itaparica, além de Arraial da Ajuda, Cumuruxatiba, Caravelas e ao norte de Porto Seguro.

Monitoramento

Procurado, o Ibama afirmou que realizou sobrevoo nos dias 29 e 30 e não encontrou manchas de óleo no litoral nordestino.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.