SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os acidentes cerebrovasculares (AVCs) e as doenças do trato urinário e dos rins são as principais causas de internações consideradas evitáveis no país, segundo levantamento.

Em 2021, enquanto as hospitalizações por AVCs corresponderam a 20,11%, aquelas causadas por infecções do rim e trato urinário chegaram a 17,44%.

Em seguida, as internações por doença arterial coronariana ou angina (8,25%), gastroenterites infecciosas (7,63%) e insuficiência cardíaca (6,85%) foram as principais causas de internações evitáveis no último ano. Outras causas correspondem ainda a 12,75%.

Os dados são de uma pesquisa da Unidas (União Nacional de Instituições de Autogestão em Saúde) feita com 56 operadoras de autogestão em saúde, que atendem os principais planos de saúde suplementar do país. Os dados foram coletados em dois momentos, em 2020 e em 2021, totalizando mais de 2,6 milhões de beneficiários dos planos, que representam mais de 80% do total de operadoras do país.

A pesquisa, que é realizada anualmente, consegue indicar tendências das internações chamadas potencialmente evitáveis, pois poderiam não ser necessárias diante de ações de prevenção e proteção em atenção primária.

O indicador é usado internacionalmente como um critério para doenças que possuem fatores de risco que podem ser contornados, geralmente associados aos hábitos de vida, como sedentarismo, tabagismo, consumo de alimentos de baixo valor nutritivo e de álcool.

De acordo com Anderson Mendes, presidente da Unidas, os dados de 2021 já sugerem como a pandemia da Covid-19 impactou o atendimento em saúde. Como as consultas e exames eletivos ficaram represados, muitos dos procedimentos realizados já foram em um contexto de maior gravidade, por isso houve o aumento de internações potencialmente evitáveis.

“A pandemia fez com que os autogestores precisassem fazer a busca ativa, ir atrás dos pacientes, porque eles pararam de procurar. E isso se refletiu de fato em um aumento dessas doenças evitáveis, registrado pelo aumento também de pronto-atendimentos”, diz.

Outras pesquisas e estudos apontaram como a pandemia provocou um represamento de mais de 1 milhão de atendimentos no SUS (Sistema Único de Saúde) e também fez crescer a parcela da população vivendo com as chamadas DNTs (doenças não transmissíveis), que incluem diabetes, hipertensão, obesidade e doenças cardiovasculares.

Os indicadores da última pesquisa do Vigitel 2021 apontam para pelo menos 9% da população adulta brasileira convivendo com diabetes, um salto de 11,7% em relação ao ano anterior. Além de diabetes, a pandemia provocou um aumento de 41% dos diagnósticos de depressão.

Segundo dados do levantamento da Unidas, a atenção primária em saúde pode contribuir com a redução de tais indicadores e de visitas aos ambientes hospitalares de maneira desnecessária. “Todos ganham com a adoção de programas de atenção primária em saúde. Tanto os planos, que reduzem os gastos, uma vez que as internações representam cerca de 50% dos custos do setor, quanto os beneficiários, que podem ter uma vida mais saudável com acompanhamento de qualidade e direcionado”, afirma Mendes.

Mendes relata ainda que, apesar de um ano ser um tempo relativamente curto para atribuir essa mudança de tendência ao contexto da pandemia, os dados de 2022 podem ajudar a apontar nessa direção.

“Estamos já coletando os dados com as autogestoras para avaliar, em até cinco ou seis meses, ou seja, até o primeiro semestre de 2023, como as internações por doenças represadas nos dois últimos anos podem ter atuado”, explica.

O levantamento, que ainda possui dados divididos por sexo, idade, localidade e tipo de procedimento realizado no hospital dos beneficiários, permite ainda avaliar quais os principais grupos que sofrem as internações e doenças relativas a causas evitáveis. De acordo com a pesquisa, a taxa de internação de pessoas com 59 anos ou mais é de 20% -a prevenção em saúde evitaria mais de 4.000 internações por ano.

A Unidas é uma entidade associativa sem fins lucrativos que representa as operadoras de autogestão do Brasil, com mais de cem filiadas representando cerca de 4 milhões de beneficiários em todo o país. A cada ano a Unidas divulga um estudo com indicadores do setor privado de saúde no país para basear a tomada de decisão no segmento privado da saúde e pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).