SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Uma carta aberta foi publicada no Facebook de Acyr Marques, irmão de Arlindo Cruz, pedindo respeito ao seu legado do cantor. O comunicado foi postado após o rebaixamento do Império Serrano e da confirmação do novo relacionamento amoroso de Babi Cruz, esposa do sambista.

A empresária está namorando André Caetano. Os dois se conheceram nas eleições do ano passado, quando ela concorreu a uma vaga como deputada estadual no Rio.
“O tempo passa para todos nós, e de um artista, com o passar do tempo, só sobram duas coisas: sua obra e sua memória. Sobre a obra de Arlindo Cruz, não há o que falar. O poeta popular, Arlindo Domingos da Cruz Filho, fez de si o eu-lírico da história do povo”, iniciou.

“No fim das contas, o papel do artista é de resumir os sentimentos do povo, e esse papel Arlindo cumpre muito bem. São poucos os que têm o privilégio de pertencer a um panteão de poetas ainda em vida, e esse presente ele recebeu. Mas não há obra sem memória. Principalmente no nosso país, onde se apaga a história, não podemos nos permitir que a memória seja esquecida”, continuou.

“O Arlindo mesmo, a pessoa antes do poeta, sempre esteve longe de ser um perdido, como alguns podem pensar. Aluno (benemérito) do Colégio Pedro II, Cadete da Aeronáutica, funcionário do Banco do Brasil e da Caixa, Arlindo ocupou espaços muitas vezes negados aos negros brasileiros, antes até mesmo mais do que hoje”.

“Arlindo Cruz, o poeta, foi aquele que decidiu seguir na carreira e dedicar sua mente e criatividade pra falar da maior coisa que ele conhecia na vida: O povo. Contar essas histórias não é só pegar um banjo e cantar. É elevar o povo ao seu mais alto nível”, dizia mais um trecho da carta.

“Quem conheceu o show do Pagode do Arlindo, no Teatro Rival, sabe o que isso quer dizer. Os mais atentos, desde aquela época, perceberam que não era só uma roda de samba, mas uma apresentação teatral representando uma roda de samba. E, no meio das músicas, histórias, conversas, piadas, uma brincadeira que a gente encontra no mais simples dos botecos da cidade do Rio. Essa característica ficou marcada nos shows de Arlindo mesmo depois desse projeto”.

“Assim como no caso da música caipira e dos ‘causos’ contados, marcado por nomes como Rolando Boldrin, nosso Arlindo Cruz eleva o samba, a vida do subúrbio, da favela carioca, e principalmente, do protagonismo negro, ao alto patamar do folclore brasileiro”, dizia a mensagem.

“Mas, Arlindo é, e sempre foi só um homem. Um homem cheio de defeitos e erros na história, como muitos de nós. Aqueles que apontam seus erros não tiveram a oportunidade de olhar para os seus também? Será que não é justo que, aqueles que apontam o álcool, a boemia e as drogas como o problema, não possam falar dos seus próprios problemas também?”.

“Tudo o que pedimos é respeito. Tanto dos fãs quanto das pessoas mais próximas. Não é justo que a grandeza de um artista seja resumida à versão de uma história nos tablóides de jornal. Desse grande poeta, lutamos pra preservar a vida, a obra e a memória. E assim, ele sempre vai viver seu grande amor pelo povo: nos braços da batucada”, finalizou.