GABRIEL CARNEIROSÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) – Da convocação polêmica à participação em apenas dois jogos, Daniel Alves foi um dos assuntos mais frequentes da participação da seleção brasileira na Copa do Mundo do Qatar. Um mês depois do torneio, o jogador antes visto como “líder positivo” está preso na Espanha.

Acusado de agressão sexual a uma mulher em uma boate em Barcelona no fim do ano passado, Daniel Alves teve prisão provisória sem direito a fiança determinada ontem (20).

O crime teria acontecido em 30 de dezembro de 2022, quando o jogador passava férias na Espanha depois da Copa do Mundo. Daniel confirma que estava na boate na data, mas nega a acusação.

O brasileiro chegou algemado à “Cidade da Justiça”, em Barcelona, na manhã desta sexta-feira. Após prestar depoimento, o Ministério Público espanhol pediu sua prisão e a juíza Maria Concepción Canton Martín acatou.

A prisão provisória pode durar até quatro anos na Espanha, enquanto a acusação é investigada. O julgamento ainda não tem data certa.
Daniel Alves é um dos jogadores mais importantes da história da seleção. Ele participou de três edições de Copa do Mundo (2010, 2014 e 2022 -teria atuado em 2018, mas foi cortado por lesão) e disputou ao todo 126 jogos. É, portanto, o terceiro atleta com mais partidas com a Amarelinha, atrás de Roberto Carlos e Cafu. Foi bicampeão da Copa das Confederações (2009 e 2013) e da Copa América (2007 e 2019) e medalhista de ouro olímpico (2020).

A convocação do lateral-direito para o Mundial do Qatar foi polêmica. Longe do auge sob contrato com o Pumas, do México, e treinando com o time B do Barcelona, ele chegou à Copa sem atuar profissionalmente há dois meses. Tite justificou a convocação dizendo que era uma premiação à qualidade técnica, individual, física e mental do veterano. Depois, se irritou ao ser confrontado com as críticas de torcedores à convocação: “Eu não vim aqui para agradar às pessoas que estão no Twitter.”

O que levou Daniel Alves para a Copa aos 39 anos foi, além da parte técnica, um sentimento subjetivo de Tite e sua comissão: a capacidade do jogador de “se reciclar” e estar aberto a repassar aos mais jovens experiências de vida e de carreira a partir do que considerava uma visão otimista e desafiadora. Tite enxergava em Dani algo do “sentimento” e “orgulho” por estar na seleção que ele gostaria de ver em outros atletas. Segundo o treinador disse em 2019, um “líder positivo”.

Dentro do elenco da seleção, Daniel Alves foi unanimidade ao longo da Copa. As críticas direcionadas ao lateral por jornalistas, influenciadores e torcedores incomodavam os outros jogadores, a ponto de em toda manifestação pública colegas fazerem defesas firmes. “Acho muito chato o que falam dele”, disse o lateral-esquerdo Alex Telles. “Se o treinador trouxe, é porque confiamos dele”, falou o volante Casemiro. Tite disse que ele “transcende o futebol”. No geral, Dani era um jogador admirado pelos companheiros.

Entre os líderes do grupo nos bastidores, o lateral-direito teria sido capitão no Qatar se fosse titular. Como a escolha de Tite foi iniciar a Copa com Danilo, o capitão foi o zagueiro Thiago Silva. Ao longo da Copa, com a lesão de Danilo, o treinador preferiu improvisar o zagueiro Éder Militão na lateral em vez de escalar Dani, que atuou na derrota contra Camarões na primeira fase num time formado só por reservas e nas oitavas de final diante da Coreia do Sul, por menos de 30 minutos.

Daniel Alves também era um dos jogadores mais próximos a Neymar. Segundo muitas pessoas do convívio da seleção, o lateral-direito, o zagueiro Thiago Silva e o técnico Tite eram as únicas pessoas daquele ambiente que o camisa 10 ouvia, considerava e respeitava em qualquer momento.

Daniel foi quem abraçou e consolou Neymar após a eliminação para a Croácia nas quartas de final.

Durante a Copa do Mundo, Daniel Alves captou imagens para a produção de uma série documental sobre sua despedida da seleção. “O Último Samba” seria a segunda temporada da série “Crazy Dream”, com lançamento previsto para 2023 na plataforma Fifa+. Ainda não há definição sobre o futuro da produção.