SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – A comemoração do aniversário de 60 anos de Xuxa Meneghel, a bordo de um navio temático lotado de fãs, confirma a fase mais madura da apresentadora, que parece pronta para abordar temas que foram considerados tabus durante sua trajetória. Houve espaço para manifestações políticas e, no palco, ela contou com paquitas negras -uma resposta às críticas de que ela só tinha assistentes loiras em seus programas.

Xuxa desembarcou da nave montada no parque aquático do navio MSC Fantasia por volta de 22h30. Ao som de “Lua de Cristal”, fez os cerca de 4.000 passageiros que lotavam o espaço correrem para tentar uma boa visão do palco. Como a área VIP, na frente do palco, era mais alta que a pista, logo atrás, alguns fãs mais afoitos subiram nas grades.

“Seis horas aqui esperando para isso”, reclamou um fã, que acabou perdendo a entrada de Xuxa. Revoltados, os que estavam sem visão do palco começaram a gritar “desce, desce, desce!”. Ao não serem atendidos, alguns jogaram água e gelo nas pessoas que estavam tapando a visão.

Logo no começo, Xuxa fez questão de apresentar o corpo de baile, formado por novos “paquitas e paquitos”, entre os quais vários negros. Alguns deles já haviam trabalhado com Xuxa no Dancing Brasil, programa que ela apresentou na Record entre 2017 e 2019.

A apresentadora não chegou a comentar a novidade. Em entrevistas recentes ela tem dito que sempre quis ter paquitas negras, mas era proibida por sua então diretora Marlene Mattos. Tanto é que a única que existiu foi na versão americana de seu programa, onde tinha outro diretor. Mattos, por sua vez, tem preferido não responder às acusações.

A primeira parte do show foi dedicada às canções do repertório que ela cantava no Xou da Xuxa, que foi exibido de 1986 a 1992 na Globo. Ao cantar “Ilariê”, um de seus maiores hits, os telões exibiam imagens de programas que ela fez em países como Argentina, Chile e Espanha, entre outros.

Entre uma música e outra, Xuxa conversava com o público, ora usando frases motivacionais que marcaram seu discurso por muito tempo (“se quiserem dar um presente para mim e para Deus, sejam muito felizes”) ora fazendo graça com a nova idade (“agora quando faço show dói tudo, porque sou quase uma vovó”).

Considerada um ícone pela comunidade LGBTQIA+, ela também fez alguns afagos a esse público. Um deles foi ao pedir para as mulheres e depois aos homens que gritassem. “Cadê o grito das mulheres? E dos homens? Quem não é homem e não é mulher?”. Decepcionada com a baixa adesão na última pergunta, ela perguntou: “Estão com vergonha de quem está do lado?”. “Não precisa não, aqui você pode ser quem você quiser”, emendou.

Porém, foi após o intervalo -durante o qual o DJ Marlboro tocou um set de funks do começo dos anos 2000- que Xuxa voltou mais ativista do que nunca. Bandeiras do arco-íris e do movimento trans, entre outras, foram exibidas no telão e balançadas pelos bailarinos, enquanto ela cantava que “toda cor tem em si uma luz, uma certa magia”.

Ao fim da canção, ela ainda emendou mais uma fala sobre tolerância ao pedir “mais respeito e mais amor”. “O mundo precisa demais que as pessoas respeitem as diferenças, sejam elas quais forem”, afirmou. “Tenho certeza de que essa é a única linguagem que Deus entende.”

Na sequência, ela fez o símbolo do amor em libras (a língua brasileira de sinais). “Esse é o símbolo que a gente tem que fazer, não esse”, comentou, enquanto fazia uma “arminha” com a mão. O gesto ficou bastante associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que durante seu mandato flexibilizou o acesso às armas.

Foi quando ela começou a cantar “Boas Notícias” (do refrão “de hoje em diante, só quero boas notícias”). Enquanto a música era executada, o telão exibia imagens em preto e branco dos ataques de 8 de janeiro a Brasília, citações ao assassinato de Marielle Franco e recortes de jornal falando sobre desmatamento, entre outros assuntos.

Ao final, alguns presentes puxaram um coro com a frase: “Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu”. Xuxa não se manifestou e, com a baixa adesão, os gritos cessaram pouco depois.

De volta aos assuntos mais amenos, ela fez corar a filha, Sasha Meneghel, ao reforçar o desejo de se tornar avó. “Já fui chamada de tanta coisa nessa vida, coisas boas e ruins”, comentou. “Hoje, na [sessão de] foto com os fãs, uma pessoa me falou: ‘Você foi minha mãe por muito tempo’. Já fui brinquedo, babá eletrônica, tia… Agora estou doida para ser chamada de vovó.”

À meia-noite, os fãs ensaiaram cantar parabéns para a loira, mas ela não quis sair do script. “Segura aí, não faz isso não”, pediu. Foi quando anunciou quem subiria na nave com ela -um privilégio para poucos em seu programa. “Nunca fiz isso com essa pessoa comigo”, contou, antes que o marido Junno Andrade entrasse no palco.

Juntos, eles executaram “Doce Mel”, o clássico encerramento de seu programa da Globo. Ao terminar a música, o público continuou cantando o refrão “doce, doce, doce, a vida é um doce, vida é mel, que escorre na boca feito um doce, pedaço do céu”, levando a apresentadora às lágrimas.

Junno, então, puxou “Parabéns da Xuxa”. “Faz dez anos que eu estou com essa pessoa e todo dia vejo ela cantando parabéns para alguém, nada mais justo que a gente cantar para ela”, disse. Foi quando Sasha entrou no palco com um bolo, acompanhada pelo marido João Figueiredo e por várias ex-paquitas e outros profissionais que passaram pela vida de Xuxa.

A aniversariante, no entanto, mal deu uma mordida no bolo antes de entrar em sua nave com Junno e partir, deixando os fãs ao som de “Beijinho, Beijinho”.

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CONFIRA O SET LIST DA APRESENTAÇÃO

“Lua de Cristal”
“O Xou da Xuxa Começou”
“Ilariê”
“Dança da Xuxa”
“Xuxalelê”
“Tô de Bem com a Vida”
“Eu Tô Feliz”
“Abecedário da Xuxa”
“Soco, Bate, Vira”
“Dançando com o Txutxucão”
“Cabeça, Ombro, Joelho e Pé”
“Estátua”
“Cinco Patinhos”
(intervalo)
“Arco-Íris”
“Boas Notícias”
“Planeta Xuxa”
“Marquei um X”
“Pinel por Você”
“Xuxaxé”
“Nosso Canto de Paz”
“Tindolelê”
“Doce Mel”
“Parabéns da Xuxa”
“Beijinho, Beijinho”