Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell sorriem para foto abraçados, em ambiente interno, aparentemente um evento socialDireito de imagem Getty Images
Image caption Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell em foto de 2005; segundo acusação, ela tinha papel de aliciar vítimas

A socialite britânica Ghislaine Maxwell, ex-namorada do bilionário condenado por pedofilia Jeffrey Epstein, se tornou ré nos Estados Unidos depois de ser presa pelo FBI.

Ela é acusada de colaborar no esquema de abuso de menores de Epstein, ajudando a recrutar e preparar vítimas sabidamente menores de idade.

Relatos na imprensa dão conta de que ela foi presa em New Hampshire, nos EUA, e deve comparecer a um tribunal federal ainda nesta quinta-feira (2).

Maxwell já havia negado anteriormente qualquer envolvimento ou conhecimento da conduta de Epstein — que morreu na prisão em 10 de agosto, enquanto aguardava, sem possibilidade de fiança, seu julgamento por acusações de tráfico sexual.

O bilionário foi preso no ano passado em Nova York, após acusações de que ele comandava uma rede de meninas menores de idade — algumas com apenas 14 anos — com finalidade sexual. Encontrado sem vida na prisão, Epstein teve sua morte determinada como suicídio.

Quais são as acusações contra Ghislaine Maxwell?

Quatro dos seis processos nos quais a ex-namorada de Epstein é ré referem-se a fatos ocorridos entre 1994-97, quando Maxwell era, segundo a acusação, uma das assessoras mais próximas de Epstein e também tinha com ele um “relacionamento íntimo”. As outras duas acusações, de 2016, são por perjúrio.

Segundo as acusações, Maxwell “deu assistência, facilitou e contribuiu para o abuso de meninas menores por Jeffrey Epstein, ajudando Epstein, entre outras coisas, a recrutar, preparar e, finalmente, abusar das vítimas com menos de 18 anos, o que era sabido por Maxwell e Epstein”.

As acusações específicas contra Ghislaine Maxwell são:

• Conspirar para atrair menores a viajar para a prática de atos sexuais ilegais;

• Incentivar viagens por menores para a prática de tais atos;

• Conspirar para transportar menores com intenção de envolvimento em atividade sexual criminosa;

• Transportar menores com a intenção de envolvimento em atividade sexual criminosa.

Maxwell é acusada de preparar várias meninas menores para atos sexuais com Epstein através de uma aproximação aparentemente amigável, onde perguntava sobre suas rotinas e famílias. Em seguida, a dupla levava as vítimas para o cinema e compras.

Firmada a relação com as vítimas, Maxwell tentava “normalizar o abuso sexual das menores discutindo tópicos sobre sexo, despindo-se na frente da vítima, estando presente quando uma vítima menor estivesse despida e/ou estando presente durante atos sexuais entre Epstein e a vítima menor”.

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Image caption Epstein foi encontrado sem vida na prisão e teve morte determinada como suicídio

“Maxwell e Epstein trabalhavam juntos para estimular as vítimas a viajarem para as residências de Epstein — em Nova York, Palm Beach, e Santa Fé”, disse a promotora Audrey Strauss, do distrito Sul de Nova York, a repórteres.

“Alguns abusos ocorreram também na residência de Maxwell em Londres.”

As acusações de perjúrio referem-se a depoimentos que a socialite deu diante de um tribunal de Nova York em 22 de abril e 22 de julho de 2016. A acusação diz que Maxwell “mentiu várias vezes quando questionada sobre sua conduta, inclusive em relação a algumas das vítimas menores”.

“Maxwell mentiu porque a verdade, como acusada, era quase indizível”, disse Strauss.

“Maxwell atraía meninas menores, ganhava sua confiança e as colocava na armadilha criada por ela e Epstein. Ela fingia ser uma mulher em quem (as vítimas) podiam confiar. Durante todo o tempo, ela estava preparando as vítimas para serem abusadas sexualmente por Epstein e, às vezes, pela própria Maxwell.”

Como o caso Epstein começou a ser descoberto?

As acusações contra Epstein datam de anos anteriores a 2005, quando os pais de uma menina de 14 anos afirmaram que sua filha foi molestada por ele.

Sob um acordo legal, o bilionário evitou ser acusado em nível federal. Desde 2008, ele passou a ser listado como nível três no registro de agressores sexuais de Nova York.

Em julho de 2019, Epstein foi preso em Nova York, acusado de tráfico sexual de meninas menores de idade por anos.

Algumas das vítimas de Epstein acusaram Maxwell de trazê-las ao seu círculo próximo para então serem submetidas a abusos por ele e seus amigos.

Uma das vítimas disse ao programa Panorama, da BBC, que era Maxwell quem “controlava as meninas”.

Maxwell, por sua vez, negou qualquer conduta criminosa. Ela praticamente não é vista em público desde 2016.

No início deste ano, a socialite reivindicou na Justiça bens de Epstein, visando custeio de honorários advocatícios e segurança. Ela “recebe ameaças regulares à sua vida e segurança”, dizem documentos de defesa neste caso.

Em outro caso, Virginia Giuffre, que alega ter sido vítima do esquema, afirma que Maxwell a recrutou como massagista do bilionário aos 15 anos.

Quem é Ghislaine Maxwell?

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Image caption Maxwell teria apresentado o príncipe Andrew a Epstein

Maxwell é filha do falecido magnata da mídia britânica Robert Maxwell.

Uma socialite bem relacionada, ela teria apresentado Epstein a muitos de seus amigos ricos e poderosos, incluindo Bill Clinton e o duque de York (que foi acusado em 2015 de tocar indevidamente uma mulher na casa de Epstein nos EUA, acusação posteriormente derrubada por um tribunal).

O Palácio de Buckingham se posicionou afirmando que “qualquer sugestão de improbidade com menores de idade” pelo duque era “categoricamente falsa”.

Em uma entrevista à BBC no ano passado, o duque de York disse que conheceu Maxwell antes de Epstein ser preso e ter se tornado réu. No entanto, eles não conversaram sobre Epstein, disse na entrevista.

No mês passado, um promotor dos EUA disse que o príncipe Andrew “procurara se apresentar falsamente” como disposto a cooperar com o inquérito sobre Epstein.

O promotor Geoffrey Berman disse que o príncipe Andrew “recusou repetidamente pedidos” de depoimento pelos promotores.

Os advogados do duque negaram que ele tenha deixado de cooperar, defendendo na verdade que o cliente havia se oferecido para colaborar em três ocasiões.

O príncipe Andrew se afastou dos deveres reais no ano passado.

Questionada sobre o príncipe na quinta-feira, a promotora Strauss afirmou: “Não vou comentar o status de ninguém nesta investigação, mas digo que seria bem vinda uma conversa com o príncipe Andrew. Gostaríamos de ter suas declarações.”

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Fonte: BBC