5 agosto 2022

Alex Jones during his trial

Crédito, Reuters

O fundador de um site que dissemina teorias da conspiração foi condenado a pagar US$ 4,1 milhões (mais de R$ 21 milhões) em danos depois de alegar falsamente que o massacre em uma escola em 2012 havia sido uma farsa fabricada pelo governo americano.

Os pais de uma das vítimas do ataque entraram com um processo pedindo US$ 150 milhões (R$ 780 milhões) por difamação contra Alex Jones, fundador do site Infowars.

Eles disseram que sofreram assédio e dor emocional por causa da desinformação espalhada por Jones, que é radialista.

Em 2012, 20 crianças e seis adultos foram mortos a tiros na escola Sandy Hook Elementary School, em Connecticut.

Um júri da cidade de Austin, no Estado do Texas, onde aconteceu o julgamento, decidiu sobre os danos compensatórios na quinta-feira (4/8) e ainda vai se pronunciar sobre outras punições contra Jones.

Jones — que não estava no tribunal quando o resultado foi anunciado — argumentou diversas vezes que o massacre foi uma farsa organizada pelo governo para retirar os direitos de propriedade de armas dos americanos e que os pais das crianças mortas eram “atores”.

Ele já havia perdido uma série de casos de difamação movidos por pais de outras vítimas à revelia após não apresentar documentos e provas. Mas esse é o primeiro em que os danos financeiros foram acordados por um júri.

O processo foi movido por Scarlett Lewis e Neil Heslin, pais de Jesse Lewis, de seis anos, que morreu no massacre na escola.

Antes da decisão de quinta-feira, um advogado do casal revelou que a equipe de defesa de Jones havia enviado a ele — sem querer — um conjunto de mensagens de texto do telefone de seu cliente referente a dois anos.

O advogado disse que um inquérito do Congresso americano que investiga a invasão do Capitólio dos EUA no ano passado já havia solicitado acesso às mensagens. Segundo o comitê, Jones ajudou a organizar um comício que aconteceu pouco antes da invasão.

Apesar de retratar suas alegações sobre o massacre em Sandy Hook, Jones continuou usando seu site para atacar jurados e o juiz do caso.

Jesse Lewis, de seis anos, foi morto em Sandy Hook

Crédito, Reuters

Jesse Lewis, de seis anos, foi morto em Sandy Hook

Jones também alegou que estava falido, apesar das evidências de que suas empresas estavam faturando cerca de US$ 800 mil por dia vendendo suplementos dietéticos, armas e equipamentos de sobrevivência.

Durante o julgamento tenso, que durou duas semanas, Jones tratou o processo como se fosse um ataque aos seus direitos de liberdade de expressão, garantidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

“A expressão é livre, mas as mentiras têm que ser pagas”, responderam os advogados da família em seus argumentos iniciais.

Em testemunho na quarta-feira (4/8), Jones reconheceu que o ataque de Sandy Hook foi “100% real” e se desculpou por ter “ferido os sentimentos dessas pessoas”.

Em seu depoimento, a mãe da vítima dirigiu-se a Jones no tribunal, dizendo: “Jesse era real… sou uma mãe de verdade”.

Ela continuou dizendo que é “inconcebível para mim que tenhamos que fazer isso”.

“Que temos que implorar a você — não apenas implorar, mas puni-lo — para fazer você parar de mentir. É surreal o que está acontecendo aqui”.

O pai disse que as mentiras de Jones “mancharam a honra e o legado” de seu filho, acrescentando que ele enfrentou quase 10 anos de “inferno” desde o ataque.

Segundo os advogados dos pais, eles foram forçados a contratar segurança privada para o julgamento por medo de que os seguidores de Jones pudessem tentar atacá-los.

Pais de Jesse Lewis

Crédito, Reuters

Pais de menino morto disseram que Jones fez de suas vidas um “inferno”

Um psiquiatra forense testemunhou que os pais sofriam de “transtorno de estresse pós-traumático complexo” semelhante ao sofrido por soldados de guerra ou vítimas de abuso infantil.

Os advogados dos pais acusaram Jones de tentar esconder provas e argumentaram que ele havia cometido falso testemunho ao negar o envio de mensagens relacionadas ao ataque de Sandy Hook.

A empresa Free Speech Systems LLC — que engloba a Infowars, de Jones — decretou falência na semana passada. O canal Infowars foi banido pelo YouTube, Spotify e Twitter sob argumento de discurso de ódio, mas continua operando na internet.

Outras conspirações promovidas por Jones incluem que o governo dos EUA está criando enchentes e tornados como “armas climáticas” e que produtos químicos na água potável estão tornando os sapos homossexuais.

O advogado Mark Banston, que representou os pais no caso, disse a repórteres do lado de fora do tribunal na quinta-feira que seus clientes não ficaram decepcionados com a quantia estipulada pelo júri.

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Fonte: BBC